Páginas

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Felizes Para Sempre

Pois é! Entre minhas experiências inusitadas por aqui fui convidado para um casamento! Na verdade eu não conhecia o noivo mas como trabalho no mesmo lugar e a empresa é pequena eu fui de embrulho. Entre o final de outubro até abril do ano que vem é a temporada de casamentos, coincide com a estação seca. O meu chefe recebe convites todos os dias quase e às vezes tem mais de um casamento pra ir no mesmo dia.



Essa é a entrada da festa. Diferente de um casamento ocidental (entre outras tantas diferenças que vocês vão ver), não tem salão, obviamente não tem igreja, e o local é perto ou a própria rua da família da noiva. Eles fecham a rua e daí coloca mesa e tudo o mais.

Deu pra perceber que a festa é meio que em levas. Não tem mesa pra todos os convidados, então o pessoal que chega mais cedo vai embora mais cedo e "troca o turno" pro pessoal que chega mais tarde poder sentar. 

Quando a gente foi até a mesa rolou de novo o efeito "alien" e eu tive meus 5 minutos de fama com os convidados com tudo mundo olhando pra mim.. haha.



Essa é uma parte da mesa, mas o que eu queria mostrar mesmo é o copo de cerveja. Dá pra notar que tem um iceberg boiando dentro. Os garçons trazem um monte de lata de refri e cerveja (quente) e depois ficam passando com baldes cheios de gelo e colocando no seu copo. Sei que é uma ofensa por gelo na cerveja no Brasil mas quente não rola, haha.


Agora dá pra ver melhor. Essa é a mesa com as entradas. Deveria ter fácil mais de 10 pessoas nessa mesa mas que com certeza não era o número ideal. Não sei se dá pra ver direito mas tem fatias de presunto, kani, um negócio frito que era uma delícia mas eu não sei o que era, castanha de cajú e umas gorduras/couro de porco que eu não curto.


Rathan (trabalha comigo), o noivo e a noiva, e eu. Vocês podem perguntar o que eu tava fazendo de calça jeans na festa. Acontece que esse é o jeito que eu costumo ir trabalhar e daí eu perguntei pras pessoas que roupa eu deveria ir. Aí eles falaram pra ir do mesmo jeito. Acho que eu fui a única pessoa de calça jeans porém como eu sou estrangeiro tudo é perdoável.. hahaha

No Brasil você tem a cerimônia religiosa, todo mundo bonitinho, aí depois vai pra festa. Mais umas 2 horas de todo mundo bonitinho. Aí, depois, o bixo pega e o pessoal fica mais interativo, tem o(s) tio(s) bêbados e por aí vai. Bom, aqui, o pessoal chega nem tão bonitinho assim, começa a beber e depois de nossa.. incríveis 2/3 latinhas a galera começa a ficar breaca. E, eles brindam - Chôl Muy - 1 milhão de vezes!



Depois ainda vieram mais uns 3 pratos incluindo: frutos-do-mar com salada (mas bem mais salada), 1 galinha inteira temperada e assada, 1 peixe inteiro (muito bom), 1 sopa de frutos-do-mar, arroz frito, e outro prato que não deu tempo de eu experimentar.

Em seguida teve um cerimonial que eu não entendi nada obviamente mas que deu pra acompanhar o contexto.





É engraçado que eles ficam mega sem graças pra se beijar. Vocês também vão acabar notando duas coisas, a mestre-de-cerimônia piriguete e a galera atacando a mesa de frutas. Só sobram os côcos no final mas nem isso ficou... Um amigo nativo aqui disse que é comum o pessoal do interior quando vem pra casamentos em Phnom Penh trazer sacolas pra levar parte da comida embora pra casa! :O

Depois da cerimônia, com todo mundo louco pelas "absurdas" quantidades de cerveja, começa a dança.


A dança acontece em um círculo em volta da mesa. Não dá pra perceber isso direito no vídeo mas de fato o pessoal fica andando em círculo e mexendo as mãos desse jeito engraçado. Acho que teve 1 hora ou mais disso. Quase todo o resto do pessoal do casamento já foi ou já tá indo embora. Ficam só os "fanfarrões".




Pra fechar, esse é um dos recepcionistas do meu prédio, super malandrão resolveu subir no palco, haha.

Bom, é isso. Foi uma experiência beeem diferente e legal. Sob o ponto-de-vista do que a gente tá acostumado a festa foi um desastre, uma zona. Tinha lata de cerveja no chão jogada por todo lado, era impossível levantar da mesa ou se mexer de tão apertado. O calor era absurdo e o chão em alguns lugares tava nojento de lama e sujeira. Porém, o noivo e a noiva não tavam nem aí com isso e eles pareciam muito felizes mesmo. O pessoal aqui realmente leva a sério o fato de estarem se casando. Eu acho que toda noiva ocidental deveria vir aqui assistir um desses antes de se casar, é super comum você ver a noiva surtando mas aqui ela tava super de boa.. Ah, de acordo com o meu chefe desde a década de 80 os presentes foram meio que abolidos dos casamentos por aqui porque o que o pessoal precisava mesmo era de dinheiro. A tradição agora é pegar o envelope do convite e colocar uma quantia que você entrega lá na hora da saída. As doações vão de US$ 10-20. Na saída dá pra ver uma banquinha contando dinheiro.. haha, super fino.

sábado, 22 de outubro de 2011

Uma aula de inglês.. (english)

Essa foi uma experiência sem fotos, mas, mesmo assim, digna de um post.

This was a non-picture experience but still deserves a post.

O Sokkon, além de trabalhar como encarregado do RH de 2a a sábado aqui também da aulas de inglês todos os dias em uma escola razoavelmente perto do meu apartamento. Essa semana ele me pediu pra acompanhar ele numa das aulas assim os alunos poderiam praticar inglês e tal. Por que não? Fui.

Sokkon, despite working as HR coordinator from Monday to Saturday here he also teaches English everyday in a school quite close to my apartment. This week he asked me to go with him so the students could practice their English. Why not? I did.

É engraçado como a gente cria factóides quanto a expectativa de como as coisas devem ser. Eu nunca vi uma escola de idiomas em situação tão precária quanto essa - porém, tenho certeza que não é a pior situação do Camboja.

It's funny how we create factoids towards the expectation how things should be. I have never seen so precarious school like that - however, I'm confident that it's not the worse in Cambodia. 

Saímos correndo do trabalho por volta das 17h, deixei a bike em casa e fui na garupa da moto do Sokkon. Entre trocentas ruazinhas em volta do Orussey Market, uma delas com obras de esgoto abertas nos leva até o prédio da escola. O térreo é um estacionamento de motos e bicicletas. Paramos e vamos rápido porque os alunos já estão na sala e o horário de início é 17h30. Subimos por escadas sujas e mal cuidadas. O átrio da escadaria tem uma grade pra provavelmente previnir a queda de objetos ou pessoas (?).

We left work by 5 pm very fast, I left my bycicle at the apartment and took a ride within Sokkon's motorbike. Among thousands of small alleys around Orussey Market, one of them with the sewer exposed due to maintenance took us to the school's budiling. The ground level works like a parking place for mortobikes and bycicles. We stopped and went upstairs quickly cause the students are already waiting for us and the class starts at 5h30 pm. The stairs were dirty and poorly maintained. The atrium had a fence probably to avoid the fall of objects or people (?).

Enfim, chegamos na sala. Cerca de 30 alunos agitados e na faixa dos 15 anos, mas com alguns perdidos em torno de 10 e outros com mais de 20, pelo tamanho da sala lembra uma aula de Cursinho. Eles sentam em duplas na mesma mesa, pequena e de madeira. A sala tem muitos ventiladores mas não fazem diferença, é muito quente. O recurso didático é a voz do professor e uma lousa branca que está mais para cinza. Logo que eu entro não só vejo mas escuto as expressões de espanto. Não é a primeira vez que isso acontece mas é incrivelmente engraçado você ser observado como se fosse um animal exótico. As crianças estão extremamente falantes, viram pro lado, conversam, em certo ponto não muito diferente do que vi ao longo da vida no Brasil. O Sokkon esguela em khmer e inglês, pede pra eu me apresentar. Falo que sou do Brasil, o que aparentemente não quer dizer nada pra eles, mas depois uma associação ao futebol logo traz "Ronaldo" na boca das pessoas. Eles são todos iniciantes, não falam nem entendem quase nada. Há alguns poucos que conseguem formular perguntas em inglês. Os livros nas mesas não tinham cara de ser muito utilizados. Me fazem várias perguntas: 1) Por que você veio pro Camboja? 2) Você gosta do Camboja? 3) Você gosta da gente? 4) Que horas você acorda? 5) Que horas você entra no trabalho? 6) Que horas você dorme? 7) Você é casado? 8) Que países você esteve antes de chegar aqui? 9) Como é a sua família? 10) Você é o mais novo ou o mais velho? 11) Quantas pessoas tem no Brasil? 12) Onde você mora? 13) Quantas pessoas tem em São Paulo? O tamanho do Brasil e de São Paulo causa um espanto tremendo. Phnom Penh tem quase 2 milhões de habitantes e o Camboja inteiro tem 15 milhões e as pessoas, a maioria, nunca estiveram fora do país, é algo sem comparação para eles. Ainda tentei explicar um pouco sobre lugares turísticos no Brasil, mas se isso já seria difícil até em português fazer alguém imaginar uma paisagem, imagina em inglês pra alguém que não entende. Terminamos.

Finally, we reached the class. There were 30 students excited and on theirs 15 years old, but with some of them with 10 and others with more than 20, by the size of the class it would remember me an university preparation school. They're all sit in doubles in the same table, small and made of wood. The room it's plenty of fans which make no difference since it's too hot. The teaching most available resource it's the teacher's loud voice and a white board that it's actually grey. As I steped in I see faces and expressions of astonishment. It's not the first time that happens but it's incredibly funny when people observe you as if you were an exotic animal.  The kids were could not stop speaking or moving, which it's not that different from what I noticed sometimes in Brazil during my life. Sokkon's scream in Khmer and English so I can introduce myself. I tell them that I'm from Brazil which at the beginning doesn't mean anything for them, but after some comment about football soon brings "Ronaldo" to the kids' mouth. They are all beginners but they can't understand almost nothing what I say. There are just a few of them that can prepare some English questions. The books on the tables seemed to be used very often. They asked me a lot of questions: 1) Why did you come to Cambodia? 2) Do you like Cambodia? 3) Do you like us? 4) What time do you wake up? 5) What time do you go to work? 6) What time do you sleep? 7) Are you married? 8) What countries have you been before coming here? 9) How's your family? 10) You are the oldest or the youngest? 11) How many people live in Brazil? 12) Where do you live? 13) How many people live in Sao Paulo? The size of Brazil and Sao Paulo makes people very impressed. Phnom Penh has almost 2 million people and the entire Cambodia around 15 million, moreover most of them have never been abroad which makes those numbers something totally out of comparison. Still I tried to explain about some touristic Brazilian places but if it would be hard the make someone to imagine a landscape in Portuguese think about do it in English that people poorly understands. We've finished.

Vamos para a 2a aula. Notei que o pessoal não é muito pontual, com várias pessoas chegando depois que a aula tinha começado, tal qual no Brasil. Essa turma é bem menor, deve ter no máximo 15 pessoas. Isso torna a tarefa do Sokkon muito, aburdamente, mais fácil. Nessa tinha uma menina que deveria ter uns 10 anos que falava um inglês muito bom até. O roteiro de perguntas foi mais ou menos parecido, desconfio que eles estavam seguindo algo do livro. Dessa vez tentei ser um pouco mais ilustrativo na hora de explicar coisas do Brasil e desenhei primeiro um mapa-mundi pra posicionar o Brasil em algum lugar na cabeça deles. Depois num outro desenho só do Brasil mostrei as regiões e fui falando do clima, vegetação e cidades. Pra fechar com chave de ouro pediram pra eu cantar uma música em inglês e era incrível como só eu achava isso esquisito. Terminamos eu e o Sokkon cantando My heart will go on com todo o pessoal acompanhando em coro e uma salva de palmas pra terminar. Desconfio que eles não sabem que essa música é do filme Titanic, ou talvez eles nunca viram o filme. Enfim, na saída descobrimos que a escola talvez tenha alguns projetores disponíveis então vamos tentar inovar e na possível próxima vez que eu for lá passar vários vídeos sobre o Brasil, com músicas, etc. Acho que vai ser legal! :)

We now go to the 2nd class. I've noticed that people are not that worried about getting there on time with many of them arriving after the class already started, somewhat related to what I've seen in Brazil before. This group is very small than the other with no more than 15 people. That makes Sokkon's task a lot, tremendously, easier. In this group there was a 10-year girl that could speak a good English. The questions' script was kind of similar so I think that they might be following something in the book. This time I've tryed to be more ilustrative when explaining about Brasil and I drew a world map so they can understand where it was. Then I started talking about the regions, the climate, vegetation and cities. To close it with a flourish they asked me to sing a song in English and it was incredible as just me thought that was weird. At the end me and Sokkon sang My heart will go on with everybody singing it with us and some applauses. I suspect that they don't know that this music was from the movie Titanic, maybe they have never seen the movie. Well, before leaving we've discovered that the school has some projectors available and then we'll try to inovate and maybe next time I get there present some videos about Brasil, with musics, etc. I think it will be nice! :) 

Ah, só para se ter uma idéia, esses alunos têm aulas todos os dias 2a-6a, 1 hora/dia, e pagam US$ 4,10/mês por isso. Segundo o Sokkon se aumentarem o preço os alunos desistem do curso. As turmas começam com 50 alunos e vão diminuindo aos poucos até estabilizar nos tamanhos que eu descrevi. Imaginem aprender qualquer idioma com uma sala de 50 pessoas!?

Oh, just to give you an idea, these students take classes everyday Mon-Fri, 1-hour/day and pay US$ 4.10/month for that. According to Sokkon if they increase the price most students would give up the course. The groups start with 50 students and get smaller with the time stabilizing around the sizes I've described. Just imagine to learn a foreign language with other 50 people in the same room!?

domingo, 9 de outubro de 2011

Holiday in Cambodia (english)

Como estava prometido vou fazer um post sobre o título do blog, que na verdade veio de uma música com o mesmo nome Holiday in Cambodia escrita e interpretada pela banda americana Dead Kennedys. Abaixo, um trecho da música:

As I had promised before I'll write one post about the blog's title, which actually comes from a music with the same name Holiday in Cambodia written and sung by the american band Dead Kennedys. Below, a sample of it:


"...Well you'll work harder
With a gun in your back
For a bowl of rice a day
Slave for soldiers
Till you starve
Then your head is skewered on a stake

Now you can go where people are one
Now you can go where they get things done
What you need, my son:.

Is a holiday in Cambodia
Where people dress in black
A holiday in Cambodia
Where you'll kiss ass or crack

Pol Pot, Pol Pot, Pol Pot, Pol Pot..."



A letra está falando do período mais triste e aterrorizante da história do Camboja. O regime genocida Khmer Rouge (Khmer Vermelho), que comandou o país de 1975 à 1979. Embora ainda sob regime militar, a década de 70 foi o chamado Milagre Econômico no Brasil, em que muita gente ganhou muito dinheiro e que houve muito desenvolvimento econômico urbano no país. Embora eu não tenha vivido nesse período, duvido que o nosso regime militar tenha chegado perto das atrocidades que foram praticadas no Camboja. É incomparável.

The lyrics is about the sadiest and terrifying period on Cambodia's history. The genocide regime Khmer Rouge (Red Khmer), which controlled the country between 1975 and 1979. Even though we Brazilians have been under military government, the 70s were called as "economic miracle", with a lot of people making a lot of money and an impressive urban-economic development throughout the country. I wasn't born at that time but I doubt our military regime was close to the atrocities committed  in Cambodia. It's uncomparable. 

História / History

A Guerra do Vietnã durou de 1955 a 1975 com uma história a parte tendo o Camboja se mantido neutro durante os conflitos. Porém entre 1969 e 1973, os EUA bombardearam fortemente o interior do Camboja e do Laos visando eliminar os rebeldes do Khmer Rouge (comunistas). O efeito colateral é que isso passou a ser utilizado pelo KR como uma justificativa pra crescer o movimento comunista e ganhar apoio de fazendeiros do interior, etc. 

The Vietnam war lasted from 1955 to 1975 with a history to itself and Cambodia kept neutral during the conflicts. However, between 1969 and 1973 the USA bombed Cambodia's and Lao's provinces in order to kill the Khmer Rouge rebels (comunists). The side effect it's that was taken by the KR as a reason to strengthen the comunist movement and get the support from countryside farmers, etc. 

Em 1973 os EUA abondaram a guerra e em 1975 Saigon caiu diante do Vietnã do Norte. Depois de mais de 1 milhão de vietnamitas morrerem nos conflitos o país encontrou a paz a partir daí. Por outro lado o drama só começava para o Camboja. O país ficaria sob o regime genocida entre 1975 e 1979 onde morreram 1-2 milhões de pessoas executados, por fome, doenças ou exastão. Em 1979 o Vietnã invadiu o país e libertou as grandes cidades do comando do partido KR. No entanto eles se converteram em guerrilheiros e fugiram para as florestas atacando as cidades periodicamente e evitando qualquer reconstrução do país. Em 1991 as forças de paz da ONU tomaram o país mas apenas em 1998 a ameaça de guerra civil seria totalmente dissipada.

In 1973, the USA retreated from the war and in 1975 Saigon fell to North-Vietnam. After more than 1 million Vietnamese had lost their lives during the battles the country found peace. However the nightmare had just started for Cambodia. The country would stay under the genocidal regime from 1975 to 1979 where 1-2 million khmer would die from summary executation, starvation, deseases and tiredness. In 1979, Vietnam invaded the country and set the big cities from KR's comand. Nevertheless, they have converted to guerillas and scaped to the forests coming back periodically to attack the cities and avoid the country to be rebuilt. In 1991, the UN peace forces took the control but only in 1998 the civil war threat would be totally forgotten.

O  Khmer Rouge pretendia fazer desaparecer a antiga sociedade que existia no Camboja e criar uma nova, totalmente agrária, sem classes, sem estrangeiros e que restaurasse o antigo vigor do império Khmer. Pra fazer isso, eles ordenaram que as pessoas evacuassem todas as cidades e se mudassem para a área rural no interior. Tudo o que representava conhecimento era associado a estrangeirismo e portanto deveria ser eliminado. Isso incluiu matar muitos ou todos os médicos, engenheiros, arquitetos, e no limite do ridículo, qualquer pessoa que usasse óculos. Depois iniciou-se a perseguição às minorias e descendentes de chineses ou qualquer outra etnia estrangeira que também eram mortos ou tinham que trabalhar mais. Nos campos de trabalho as pessoas foram separadas em Base People - aqueles que já viviam nas áreas rurais, considerados "não-corrompidos" e portanto tinham direito a mais comida e menos trabalho; e New People - os recém-chegados das cidades, "corrompidos" tendo que trabalhar muito mais e comer muito menos. 

The Khmer Rouge idea was to make the actual society in Cambodia disappear and create a new one, totally agriculture based, no social classes, no foreigners and that recover the ancient prestige of the Khmer empire. In order to do that, they ordered people to evacuate all the cities and move to the countryside's rural area. Everything which represented knownledge was associeted to foreign culture and thus had to be eliminated. That included to kill many or every doctors, engineers, architects, and to the top of the insanities, all people who wore glasses. Afterwards they started to persecute all minorities people killing them or making them work more. In the work fields people were separated between the Base People - those who already have been living in the rural areas, considered "not corrupted" and thus had more rights over food and less work; and the New People - the new arrivals from the cities, "corrupted" and thus had to work much more and eat much less.

O ponto mais curioso da história é que os principais líderes do regime, mas destacadamente Pol Pot tiveram acesso à educação, com vários se graduando na França.  

The weirdest point of the history is that the major leaders of the regime, but prominently Pol Pot had access to education, with many of them graduating in France. 

Tuol Sleng Museum

Logo que me mudei pra cá fui visitar o Tuol Sleng Museum, hoje museu, no passado uma escola que foi convertida em prisão, palco de execução e tortura. Foi uma experiência extremamente marcante e não tem como não se sentir mal lá dentro. Imagino que a sensação seja parecida quando se visita ex campos de concentração na Alemanha ou Polônia. Algumas fotos:

Soon when I moved here I went to visit the Tuol Sleng Musem, today musem, but in the past a schoold that was converted into prison, execution and torture stage. It was extremly intense experience and I had no way then feeling bad there. I imagine it should be the same sensation when visiting ex concentration camps in Germany or Poland. Some pictures: 





Fotos de pessoas executadas




Como eu falei a sensação de entrar dentro das celas, ver os quadros com os desenhos das torturas e também as fotos das vítimas é algo difícil. Você fica ali parado e bobo tentando entender porque aquilo aconteceu e como alguém pode inflingir e ordernar tanta dor às outras pessoas.

As I said the sensation to get into the cells, see the pictures of the tortures and from the victims it's not easy. You stay there starring and trying to understand why that happened and how someone can make so harm to other people. 

História Viva / Live History

Ainda assim, essa experiência, embora espacial, visual, etc, não é tão viva e dramática quanto a leitura do livro First They Killed My Father da escritora e sobrevivente Loung Ung. O livro é todo em inglês e encomendar ele do Brasil não é muito fácil. Como aqui ele é vendido em toda esquina vou levar umas três cópias para o Brasil e organizar um rodízio entre várias pessoas para que leiam. A história é impressionante, é digno de virar filme e vários momentos as coisas são tão fortes que você pensa que é ficção, mas não é. São os fatos reais. A história te faz chorar de tristeza e também de alegria. Todas as pessoas deveriam ler.


Fonte: HarperCollins Publishers
Still, all that experience even though it was spacial, visual, etc, it's not so alive and dramatic as when I've read the book First They Killed My Father from writer and survivor Loung Ung. The book is all English written and order it from Brazil might not be that easy. Since here it is sold in every corner I will take at least 3 copies to Brazil and organize some rotation among many people to read it. The story is impressive, it worth to make a movie from it and some moments things are so intense that makes you think it would be ficcion, but it's not. These are real facts. The story makes you cry from sadness but also from joy. Every people should read it.

Abaixo vou explicar um pouco a história. Se você pretender ler o livro (lembre-se que é em inglês) então reserve a emoção para sua leitura e não leia o meu resumo aqui.

Below I'm going to explain a summary about the story. If you're planing to read it please save your emotions to that moment and do not read my summary.

Tudo começa em Abril de 1975, na cidade de Phnom Penh, onde eu moro. Loung Ung nessa época tinha apenas 5 anos e fazia parte de uma família de classe média com mais 5 irmãos, sua mãe e seu pai. Eles tinham hábitos comuns para uma família de classe média até brasileira. Tinham uma casa no centro da cidade, 1 carro para a família, 1 empregada que cozinhava, limpava e arrumava a casa e iam no clube nadar e se divertir nos finais-de-semana. Todos iam pra escola todos os dias e o irmão mais velho estudava na França. Nas ruas da cidade havia muitas motos, bicicletas, barraquinhas e carrinhos vendendo comida, enfim, igual atualmente. O pai dela era capitão da polícia e portanto era ligado ao governo atual.

Everything starts in April, 1975, in the city of Phnom Penh where I live. Loung Ung at that time was 5-years old and she was part of a middle class family with more 5 brothers, her father and mother. They had very common habits for a middle class family even in Brazil. They had a house located in downtown, 1 car, 1 maid that cooked, cleaned and organized, they went to the club to swim and have some fun during the weekends. Everyone went to school and the oldest brother studied in France. On the streets there were lots of motorcycles, bycicles, stalls and carts selling food, the same as today. Her father is the police capitain and thus is connected to the actual government.

Neste mesmo mês, os soldados do Khmer Rouge tomaram Phnom Penh e ordenam a evacuação da cidade. A família de Loung pega todas as roupas e alimentos que podem juntar e colocam dentro de um velho caminhão que possuem e vão para o interior. Na saída da cidade e também nas estradas nos próximos dias uma multidão de pessoas vai simplesmente andando em direção à zona rural. Logo o combustível acaba e uma caminhada de 7 dias começa até que seja possível chegar no primeiro posto militar. MAS, é uma família e portanto com várias crianças. Loung não entende o que está acontecendo e toda hora pergunta sobre quando voltarão pra casa e quando terão comida à vontade novamente e não terão que andar tanto. A família é então transferida pra uma vila em que moram alguns outros parentes. 

In the same month, the Khmer Rouge soldiers have taken Phnom Penh and ordered the city evacuation. Loung's family takes all the clothes and food they could carry and put everything inside an old truck and move to the countryside. In the exit and also on the road a huge crowd go just walking to the countryside direction. Soon, the fuel runs out and a 7-day walk starts until they get to the nearest militar post. BUT, it's a family with a lot of kids. Loung does not understand what's happening and asks all the time when they will get food and they won't need to walk that much. The family is transfered to a small village where some other relatives live. 

A partir daqui Luong fica ainda mais confusa porque a família passa a ter que mentir a todo momento sobre sua identidade. Se descobrirem que eles são de Phnom Penh e que o pai dela foi capitão da polícia provavelmente a família inteira será executada. Portanto, falar sobre o passado com qualquer pessoa é proibido. Não há como saber se algum dos vizinhos não irá delatá-los. Rapidamente a antes família feliz que vivia junta em Phnom Penh começa a ganhar os traços de uma família sobrevivente. O tempo passa e a estação das chuvas vem. Chove o dia inteiro e não há comida nem nenhuma forma de aquecer a comida. Peixes e sapos têm que ser comidos crus. O turno de trabalho para os adultos vai de 12 a 14 horas por dia.

From now on Luong gets even more confused why her family have to lie all the time about thir identity. If the soldiers discover that they're from Phnom Penh and that her father was the police captain probably the whole faimily will be executed. Therefore, they should not talk about their past to anyone. There's no way to know if some of the neighbors could report them to the soldiers. Soon the happy family that once lived in Phnom Penh start to get faces of survivors. The time goes on and the rainy season arrives. It rains for the whole day and there's no food or anyway to cook it. Fishes and frogs have to be eaten raw. The working shift to the adults lasts from 12 to 14 hours a day.

Com medo de ser descoberta pelos soldados a família pede transferência para outra vila, e depois é transferida ainda mais uma vez. Infelizmente, são levados para o olho do furacão. Na última vila, Ro Leap, quando chegam, são recepcionados por uma multidão de Base People que percebe a descendência chinesa da família de Luong e cospe neles. Em seguida, queimam suas roupas em público e requerem que vistam um uniforme característico do Khmer Rouge. A partir daqui a situação fica cada vez mais crítica. Uma irmã, Keav, é enviada para longe pra trabalhar em outro campo. Outros dois irmãos, Meng e Khouy, também são enviados pra outras localidades. Famílias inteiras se suicidam nas vilas pra escapar da tortura, da fome e do sofrimento. Qualquer coisa que for comestível vira alimento - cobras, sapos, bezouros, vermes, minhocas, raízes, tudo. Comida estranha não é fetiche cultural, é memória recente de povos que passaram por episódios generelizados de fome

 Threatened about being discovered by the soldiers, the family asks for transference to another village being transfered again to other. Unfurtunatelly, they end up taken to the one of the hardest places. In the last village, Ro Leap, when they arrive, a Base People crowd goes to "welcome" them and when they notice the Chinese heritage of the family they start to spit on them. Next, they burn their clothes and require that a characteristc uniform should be worn from now on. From this point things' get even more critical. A sister, Keav, it's sent away to work in another camp. Other two brothers, Meng and Khouy, are also sent ot other locations. Whole families commit suicide in the villages to scape from torturing, starvation and suffering. Anything that is edible can become food - snakes, frogs, crickets, worms, roots, everything. Weird food it's not a cultural fetish, but a recent memory of people that went through episodes of widespread famine.

No auge das dificuldades as pessoas tinham que sobreviver com 3 colheres de arroz por dia. As famílias estavam ficando cadavéricas e as mortes por doenças, fome ou execuções se tornaram diárias. Sua irmã que foi enviada para o outro campo adoece gravemente, porém os chefes do campo não permitem que ela vá ao hospital até que a doença já está bem avançada. Ela morre sozinha deitada sobre sua própria urina e fezes no leito do hospital chamando pelos pais que quando chegam não encontram nem seu cadáver, já misturado com todos os outros mortos.  A vila cheira a cadáveres. Em um certo dia soldados vêm à cabana da família e dizem que precisam do pai, Pa, de Loung para ajudar a consertar um caminhão na estrada e que no próximo dia ele deveria estar de volta. Loung entende o que está acontecendo e que a despedida mais longa do pai representa algo a mais e que esse deve ser o último momento em que irá vê-lo. Porém, como ela é ainda uma criança, todos os dias seguintes ela continua esperando à porta pelo pai. Mas não apenas ela, a mãe e os irmãos também. Logo vários pais de família começam a ser levados por toda a vila, e então as famílias começam a tentar esconder os pais, sem sucesso. 

In the edge of difficulties people have to survive with 3 rice spoons a day. Families were becoming cadaveric and death became a daily experience. Her sister who was sent to other working field falls ill but the camp chiefs do not let her go to the hospital until the desease gets very serious. She dies alone over her own urine and faeces on her hospital bed calling for her parents that when they finally arrived they couldn't even find her corpse, which was mixtured to all the others. The village smells dead bodies. One day the soldiers come to their hut and say that Loung's father, Pa, is needed to help them to fix a truck on the road and that in the next day he should be back. Loung understands what's happening and that the longe farewell sounds something else thus being the last moment she would speak to him. However, since she's just a kid everyday she expects her dad to come back. But not just her but her mother and brothers tood. Soon many dads start to be taken out of the village and then the families try to hide them without success. 

Em seguida percebendo o perigo da família ficar junta e ser executada duma única vez, a mãe de Luong manda que ela, o irmão Kim e a irmã Chuo fujam em direção a campos de trabalho para crianças. Eles fazem isso e Luong e Chuo ficam juntas sem saber para onde Kim tinha ido. Logo elas começam a ser mal tradadas porque têm pele mais branca que as outras crianças e parecem com chineses. Percebem que Luong é forte e então ela é transferida para outro campo em que crianças são treinadas pra se tornarem soldados. A família ainda consegue se reencontrar uma vez no hospital. Após isso, a mãe - Ma e a irmã ainda bebê de colo - Geak são executadas. A vida continuaria mais difícil não fosse a ocupação vietnamita que libertou o Camboja do comando Khmer Rouge. Porém, os agora guerrilheiros atacavam as vilas de forma súbita e imprevisível conseguindo matar muita gente em cada incursão. Luong ainda conseguiu escapar de ser estuprada por um soldado vietnamita que levou-a para o meio da floresta sobre o pretexto de dar-lhe água. 

Next realizing the danger that the family was facing together to be whole executed at once, Luong's mother order her, her brother Kim and her sister Chuo to run away to the children working fields. They do that and Luong and Chuo stay together without knowing where Kim had gone. Soon they start to suffer bullying from the other kids due to their light skin and their appearance to the Chinese. The local authority notices that Luong is strong and thus is taken to another field where they train kids to become soldiers. The family is still able to meet once in the hospital. After that, the mother, Ma, and the baby sister, Geak, are both executed. The life would become even harder if the Vietnamese hadn't invaded and set the country free from Khmer Rouge comand. However, as they now became guerilla the attacks could come from everywhere at anytime thus being able to kill a lot of people on each incursion. Moreover, Luong scaped from being raped by a Vietnamese solider that took her to the middle of the forest under the pretext of giving her water.

Um um dos dias o ataque dos guerrilheiros fez com que todos abandonassem uma vila em pânico em direção a um galpão de concreto como refúgio. A situação parecia estável até que um morteiro atingiu o prédio. Luong estava do lado de uma amiga, porém quando olhou, a cabeça da amiga vertia sangue e pedaços de cérebro estavam esparramados pelo chão. 

During one of the guerrilla attacks all people had to abandon the village in panic and go to some concrete wharehouse. The situation appeared to be stable when a mortar hit the building. Luong was close to a friend but when she looked, the friend's head was bleeding and brain pieces were all over the floor. 

Finalmente, o que restou da família pode se reencontrar e viver junto. Porém, pretendendo chegar até os EUA, a família decidiu que Luong e Meng (o mais velho) iriam para o Vietnã para poder pegar um barco seguro para a Thailândia onde havia um campo de refugiados. Lá eles iriam esperar quanto fosse preciso para conseguirem um sponsor - alguma pessoa ou entidade que estivesse disposto a pagar e dar apoio para que eles fossem integrados aos EUA. No caminho para a Thailandia, o barco foi parado por piratas, ainda que não violentos, levaram itens como jóias, dinheiro e ouro de todos que estavam a bordo. A dupla consegue chegar nos EUA e montam uma nova vida em Vermont. Meng trabalha pesado para poder mandar dinheiro todos os meses para o Camboja e também trazer o resto da família. Em 1995, Luong volta para o Camboja pra visitar sua família e no aeroporto de Phnom Penh reencontra em torno de 30 parentes entre tios, irmãos, sobrinhos, etc, que ela ficou 15 anos sem ver. FIM

Finally, what remained from the family was able to recover and live together. However, in order to get to the USA, the family decided that Luong and Meng (the oldest brother) should go to Vietnam to get a safe boat to Thailand where there were refugee camps. There they should wait as long as it takes to find a sponsor - some person or entity which had the will to pay and give support to these people to be integrated to the US. On the way to Thailand, the boat was stopped by pirates, not violent, but still took all the gold and money that people had on their pockets. The duble can then reach the US and start a new life in Vermont. Meng works hard so he could send money to the family in Cambodia. In 1995, Luong comes back to Cambodia to visit her family and in Phnom Penh's airport she finds again around 30 relatives among uncles, brothers, nephews, etc, that she didn't see for the past 15 years. The End.




Atualização: Depois de lido esse livro descobri que havia uma continuação chamada "Lucky Child" que retrata a experiência de Loung nos EUA e todas os choques culturais e a sua tentativa de esquecer o passado trágico no Camboja. Não é uma história tão emocionante como o primeiro livro mas ao mesmo tempo isso é reconfortante, significa que ela encontrou alguma paz. No entanto, como costuma ocorrer com vítimas de guerra, ela tem pesadelos, visões, etc, envolvendo a parte da família que havia morrido e as cenas de tragédia que ela presenciou. Mais do que isso, a adaptação à cultura americana e a dificuldade para aprender inglês e se relacionar com outras pessoas. Ao final de tudo fiquei muito feliz em ver que ela enfim conseguiu superar tudo isso, cursou uma faculdade, casou-se e se comprometeu a levantar recursos e ações de socorro para as vítimas do genocídio no Camboja.


Update: After reading this book I've discovered that there was other called "Lucky Child" which shows Loung's experience in the USA and all the cultural clashes and her struggling to forget her tragic past in Cambodia. It's not as emotional as in the first book but that quite makes me feel better because shows that she has found some peace. However, as it usually happens to war victims, she has nightmares, visions, etc, with part of the family that was killed and the tragedy scenery she has seen. Moreover, the American culture adaptation and the challenge to learn English and create new relationships with other people. At the end I was very happy to see that she got over it, attended college, married and commited to raise funds and actions of aid to the victims of the genocidal regime in Cambodia. 


Fonte: GoodReads