Uma das viagens curtas de 1 dia é possível visitar algumas cidades ou ilhas próximas a Phnom Penh. Isso mesmo, ilhas no meio dos rios.
Eu, Jurate (Lituânia), Elisabeth (Holanda) e Nádia (Indonésia) fomos no domingo visitar a Mekong Island, localizada no meio do rio Mekong. Essa ilha é famosa pela produção artesanal de seda, a 'praia' na beira do rio e o turismo como conseqüência de ambos. No entanto, não é um lugar tão fácil de chegar, vou contar.
Nos encontramos por volta das 8h na região do Riverside (Sisowath Quay), depois de alguns atrasos conseguimos partir com um tuk-tuk em direção à Japanese Friendship Bridge sobre o rio Tonlé Bassac. Atravessar essa ponte é algo como voltar algumas dezenas de anos no tempo. Imediatamente do outro lado do rio há uma enorme quantidade de barracos e a única via asfaltada é a própria estrada. O ar (cada vez mais) seco fica empoeirado numa cor avermelhada como o interior de São Paulo durante o inverno.
Nossa informação estava errada. O lugar onde devíamos pegar a balsa pra chegar até a Mekong Island não era próximo à ponte como imaginávamos mas depois de um labirinto de casinhas. Até aqui nos custou cerca de $1,25/pessoa. Chegamos até a balsa na beira de um barranco. O transporte até a ilha custa $0.12/pessoa, super barato. Dentro vai de tudo. Carros, caminhonetas, motos, carga, e até uma vaca que deixou sua marca aromaticamente inconfundível na volta.
Logo que chegamos à ilha há também um barranco para sair da balsa. Entenda que o nível do rio entre a cheia (Setembro/Outubro) e a seca (Março/Abril) varia em torno de 5 a 6 metros. O resultado é que aquelas motinhos tipo scooter que carregam tudo numa área plana não foram feitas pros barrancos, especialmente puxando uma carga pesada. Do nada algumas pessoas começam a gritar (mas também a rir) e o intrépido nativo que estava levando uma carga de água pra ilha transformou sua moto num verdadeiro touro mecânico como você pode ver. Mas fiquem tranquilos que deu tudo certo e eles conseguiram arrumar a moto e empurrar pra cima do barranco.
Nessa balsa, além de nós, havia mais um ocidental com uma pequena bicicleta. A princípio todos só falavam inglês então nem perguntamos de onde era porque parecia ser apenas mais um turista (mais aventureiro de fato) e eu chutaria que era francês. Pois bem que quando já tínhamos negociado o outro tuk-tuk pra rodar dentro da ilha ($3/pessoa) a Elisabeth me chama e fala que na mochila do turista estava escrito Brasil. Eu checo e não apenas Brasil mas também "SESI/SENAI", etc. Não demorou, perguntei em português e veio a confirmação, era um brasileiro. Como já estávamos de saída conversamos rápido mas ele se juntou ao nosso grupo então mais pra frente falo mais detalhes da nossa conversa.
Como eu havia dito a especialidade da ilha é a produção de seda então todas as casinhas que você para no caminho pra conhecer têm quase sempre uma mulher tecendo os fios. Geralmente eles produzem um tipo de cachecol/lenço que é bem característico dos cambojanos. Eles costumam amarrar na cintura, no pescoço ou na cabeça e a estampa mais comum é o xadrez avermelhado ou cinza.
Pra poder chegar até a praia pagamos uma 'taxa de turismo' de $0.50/pessoa. Essa é a vista do topo. A tradição Khmer em áreas de águas calmas é ter uma espécie de barraquinha em que 4-5 pessoas podem se sentar tranquilamente pagando cerca de $1 pelo dia todo.
Uma vez que você está lá todo tipo de vendedor - crianças, adultos, idosos, etc - irão oferecer todo tipo de coisa - lenços, chapéus, frutas, água de côco, etc - não sendo muito diferente de qualquer ambiente de praia mesmo. Nessa hora eu tive mais tempo de conversar com o brasileiro, Bruno. Ele era do Rio de Janeiro mas vivendo já há bastante tempo fora do Brasil, no Canadá. Ele decidiu vir para o Camboja para trabalhar para uma ONG local que fiscaliza o processo eleitoral - imagino que seja um trabalho no mínimo tenso dadas as seguidas acusações de manipulação de resultados. Além disso ele está se esforçando (muito) pra aprender Khmer e já desenvolve algumas conversas bem fluidas. Cada vez mais eu concluo que não importa a língua em questão chave é dedicação, pura e simplesmente vide cada vez mais inspiradores exemplos de pessoas que ficaram fluentes em 3-4 meses.
Outro aspecto foi o fato de ter encontrado outro brasileiro nesse lugar. Não é um ponto turístico comum, a maioria dos visitantes na cidade jamais pensam em ir "tão longe". Fiquei feliz em ver que mais brasileiros estão saindo da zona de conforto de visitar/morar apenas países desenvolvidos e arriscando a conhecer as fronteiras do mundo. Mochileiros brasileiros ou short-termers (<1 mes/2 meses) é algo possível de se encontrar porém long-termers só conheço eu mesmo e o Bruno até agora.
O processo de barganhar no Camboja - diferente do Vietnã, e imagino que da China que têm uma postura muito mais agressiva - é algo cortês, com muitos sorrisos e agrados. Duas senhoras vieram na nossa barraquinha oferecer os lenços e chapéus. Ambas gostaram de ser fotografadas, fizeram questão de colocar os lenços nas nossas mãos e quando barganhamos a negativa veio com o sorriso da foto abaixo. No Camboja quando você propõe um preço indecente as pessoas riem. No Vietnã, eu tenho quase certeza que fui xingado. De qualquer forma tenho um enorme respeito pelos vietnamitas e fui muito bem tratado quanto estive lá então prefiro colocar isso apenas como culturas comerciais diferentes.
Ah, esqueci de dizer que compramos uma porção de jaca. Todo mundo conhece jaca né? Mas você já experimentou? Mesmo a gente tendo essa fruta no Brasil eu nunca tinha tentado antes e eu adorei! Aqui eles ainda fazem algumas vitaminas com cenoura, leite condensado, pitaia, etc, e fica ótimo.
Depois fomos embora e paramos no caminho para almoçar. Comida típica do Camboja e do Vietnã, sopa de macarrão com uns pedaços de carne e muitos temperos por $0.75. O Bruno daí ficou no caminho para continuar a explorar a ilha e nós voltamos pra Phnom Penh. Finda mais uma mini-aventura.
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