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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Ano Novo em Sihanoukville


Eu sei, eu sei.. tá super atrasado mas vou colocar em dia! hehe esse post vai falar sobre a passagem de ano novo em Sihanoukville.

No Camboja não há ano novo cristão, mas, como aconteceu em boa parte do mundo a influência ocidental chegou até aqui... só que num contexto um pouco diferente. Provavelmente observando pela TV o que acontecia na Europa ou nos EUA, ou ainda o que os gringos faziam aqui no Camboja, os cambojanos associaram ano novo apenas à contagem regressiva. Tanto é verdade que quando viajamos para a passagem ninguém se referia à passagem em si mas ao "Countdown", à cerveja, à festa e aos fogos de artifício. Ou seja, exclua todo aquele cerimonial psicológico que tem no Brasil quando você chega parte do fim do ano, exclua a choradeira e pegue apenas a parte festiva da coisa. Essa percepção é tão forte que eu não cheguei a ter aquela sensação de mudar de ano. Esse é um dos efeitos em estar numa cultura totalmente diferente, os rituais de passagem são totalmente diferentes também.

Para o Ano Novo a minha empresa fretou um ônibus, cobrou $10 de cada pessoa e ofereceu café da manhã, almoço e cerveja, frango, lula e camarão o dia inteiro na beira da praia. Como é típico aqui no Camboja, a capacidade das coisas não é contratada pela necessidade mas pelo o que é possível. Logo, todo mundo ficou socado dentro do ônibus. Pode até parecer que não tá apertado, mas tá.


O maior acionista da minha empresa é também dono de meio Camboja, então paramos num dos seus outros negócios - no caso uma pedreira - pro café da manhã. Abaixo, foto de um café da manhã típico do Camboja, carne, ovos e arroz. Outras variações incluem frango ou porco.


Foto do pessoal na pedreira. O ex-chefe que me contratou, Soknim, é o 2o a partir de mim, de camiseta vermelha.


Logo que chegamos em Sihanoukville fomos almoçar em uma das praias. Essa é a Ream Beach que parece mais uma lagoa porque praticamente não têm ondas. É uma praia deserta e sem infra-estrutura nenhuma, apenas lixo jogado em volta. Porém, há notícias de que um enorme projeto de desenvolvimento está para ser implantado ali, com muitos resorts e tal. Aguardem.


Finalmente chegamos ao nosso destino final Ocheteaul Beach, que ao contrário da anterior não tinha nada de deserta. O Camboja inteiro resolveu ir para Sihanoukville para o Ano Novo. À primeira vista me lembrou o antigo Brôa de Itirapina com a galera fazendo a maior farofada. E era isso mesmo. O pessoal parava ali na areia, colocava a tenda, o isopor e começava a fazer a comida. A gente não foi diferente.



Algumas coisas para notar. Os cambojanos não usam bikinis/maiôs/sungas nem nenhuma roupa comum de entrar na água. Eles entram com a roupa inteira, calça, blusa, tudo. Segundo o que conversei com alguns nativos isso se deve à "reforma cultural" do Khmer Rouge durante os ano 70. Antes desse período o Camboja seguia as mesmas tendências de moda que haviam no mundo todo, mas após isso as influências estrangeiras passaram a ser consideradas crime e contrariar resultava em morte. Mais sobre esse período nesse post. Resultado, as pessoas passaram a ficar acostumadas a entrar na água com roupa. 

Ocheteaul Beach tem cerca de 2 km. O lado que a gente tava era quase o extremo do canto esquerdo. Essa é a área dominada pelos nativos mais pobres e quase não há infra-estrutura. Do lado extremo direito, a composição muda e predominam os nativos ricos e os estrangeiros com vários bares, restaurantes, hotéis pequenos, mas ainda tem cara de terra de mochileiro.



Há uma exceção à regra de ir de roupa na praia: as crianças. A grande maioria das crianças ficam peladas nas praias e isso significa cocô e xixi sendo feito na areia, na água.. mas enfim, são as criancinhas! haha


Outro hábito local, fazer esculturas na areia. Nesse caso foi patrocinada pela Nokia, mas eu cheguei a ver outras muito boas também sem nenhuma marca associada.



E aí eu tive uma surpresa legal. Os cambojanos gostam de balada e conhecem todas as músicas moderninhas que tocam no Ocidente. Os nosso funcionários, a maioria, é na faixa dos 20-30 anos e a maior parte do tempo eles não têm muito acesso a uma boate ou algo assim por isso o pessoal adorou esse espaço com música eletrônica e tal na areia. Na foto não dá pra ver mas tinha o pessoal dançando no meio e em volta uma parede de nativos parados olhando. Ali mesmo estava acontecendo um choque cultural dentro do mesmo país. 


Essa foto é de alguns momentos antes da virada. E aí chega a virada... e... ???? Nada. Ninguém se abraça, ninguém pensa no ano que passou, nada muda... sair de dezembro e ir pra janeiro tem quase nenhuma diferença pra eles e é tão igual quanto ir de janeiro pra fevereiro.. esse foi um choque grande. E se somar com o fato de que também não tem carnaval e enquanto o Brasil tá parando aqui tá tudo normal é ainda mais bizarro. Como eu disse, 2012 tem ainda um ar de 2011 pra mim e o mais engraçado vai ser quando eu voltar pro Brasil e já vai estar a meio caminho andado pra 2013. 


 Depois disso, mais algumas cervejas e fomos pro hotel. Um porém, o orçamento do evento só permitiu reservar 2 quartos mas nós tínhamos quase 30 pessoas. Os mais reservados acharam um outro lugar pra ficar. As (poucas) mulheres ganharam um quarto só pra elas. E eu e a tropa ficamos espremidos em 4-5 por cama (de casal) e outros ainda pior distribuidos pelo chão. Que aventura! hehe

No outro dia as pessoas foram embora mais eu fiquei! Eu tinha uma reunião 2 dias depois no porto da cidade que é nosso cliente. Como haveria 2 dias de feriado e não teria transporte pra vir, minha empresa decidiu que era melhor eu ficar na cidade até o dia da reunião. Foi o que eu fiz! :) E apesar do presente ter sido bom foi ainda melhor pra eu poder ser justo em relação às praias do Camboja que, SIM, são muito lindas e devem ficar tão famosas quanto à Thailândia no futuro próximo.


Mais uma coincidência feliz da situação, devido à alta temporada os hotéis mais baratos estavam todos lotados então "tive" que ficar nos mais caros. Fiquei na ponta direita da Ocheteaul Beach que depois do pier recebe outro nome, Serendipity Beach. Não sei se tem a ver com serenidade mesmo, mas o lugar é muito relaxante. Na verdade não tem areia, apenas pedras e um caminho sobre elas mas os hotéis dão de cara pro mar. Essa era a vista da frente do meu hotel. Fiquei no Aquarium Hotel e a diária foi de $35.



Acabei chegando mais cedo do que o início da minha reserva então resolvi dar uma volta e explorar a área. Encontrei umas pedras maiores e daí, pra mostrar como era a vista de onde eu tava taí a foto: 


Já alojado, saí pra andar a praia toda, inclusive a Ocheteaul. As fotos abaixo são da mesma praia do dia anterior. É quase impossível acreditar mas essa é a diferença que um céu azul e muito menos gente no lugar fazem. 



Andando pra lá e pra cá, olha o que eu acho. É bom saber que estamos virando moda internacional, hehe.


No outro dia, como era feriado eu resolvi contratar algum tour ($20, dia todo com almoço incluso) pra conhecer alguma ilha na região de Sihanoukville. Peguei o tour pra Bamboo Island. O nosso barco era bem simples mas parecia ir bem. No barco estavam alguns funcionários de uma empresa de exportação. Eles estavam passando o Ano Novo juntos e trouxeram (alguns) a família também. Não passou muito tempo e um deles com o balanço do mar começou a vomitar tudo na água. Aí me falaram que ele tinha tomado todas no dia anterior. Depois percebi que um deles falava inglês melhor e estava coordenando a galera. Descobri que era o gerente e ele não era do Camboja, era de Fiji. Faz 7 anos que ele está morando em Phnom Penh e trocamos muitas idéias sobre a situação do Camboja, os problemas de infra-estrutura e corrupção e o que mudou em Phnom Penh nos últimos anos. Tal qual a francesa que eu encontrei em Halong Bay, no Vietnã, ele disse que de alguns anos pra cá houve a revolução dos carros e dos prédios. O trânsito antes vazio agora é cheio de engarrafamentos e o céu está enchendo de prédios. Progresso mas com desafios. 

Abaixo, vista a partir da ilha.


Como costuma acontecer quando conheço cambojanos tive meus 5 minutos de fama e a família inteira dele veio tirar foto comigo.





Eu fiz algo de propósito. Estas fotos não são 100% honestas. Elas são, digamos, 80%. Eu não fotografei a montanha de lata, sacolas plásticas, garrafas PET, etc, que estão pela ilha. Quero fazer propaganda positiva desse lugar porque eu tenho certeza que o potencial turístico é enorme e se esse potencial se realizar eu tenho certeza que o lixo vai ser melhor controlado. De qualquer forma, esse é um problema crônico no Camboja. As pessoas têm o (péssimo) hábito de jogar tudo em qualquer lugar menos o lixo. Na verdade, em geral, não existem lixos então tudo acaba terminando na rua ou no mato. O pior disso é quando eu vejo pessoas que foram pra escola e fizeram até faculdade mas que mantém o hábito. Quando isso mudou no Brasil? Quando que a gente passou a se sentir mal quando jogava ou via lixo sendo jogado na rua? Essa é uma transformação cultural-educacional bem interessante de discutir.

Mas enfim, voltando. Há uma trilha que leva para o lado sul da ilha. Como esse lado fica virado pro oceano, as ondas são bem maiores, a água não é tão clara e a areia é mais grossa. A parte boa é que como é mais distante, as pessoas quase não vão lá e portanto é praticamente deserto e não tem lixo.

Bom, fica aqui meu relato sobre Sihanoukville. Tenho certeza que será uma localidade cada vez mais lembrada nos roteiros dos viajantes pelo Sudeste Asiático. Por exemplo, na reunião no porto descobri que apenas em 2012 estão agendadas paradas de 12 cruzeiros na cidade depois de um ano vazio em 2011. Aproveitem enquanto for barato! :) Até a próxima!! :)

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