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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Misteriosa Bagan



Parênteses

Muitas pessoas sabem do meu medo, quase pânico, com aviões. Por ironia do destino nesses últimos 12 meses eu estive até o presente momento em 19 vôos! Sendo que, pra piorar, 2 deles em Myanmar foram feitos em um avião pequeno e com hélices. Porém o stress foi em vão porque esse avião ATR pareceu ser muito estável - mais até do que o tradicional  e maior A320 - e nem balançou! :)


Introdução

Bagan é o destino turístico mais relevante e impressionante de Myanmar. Porém, isso ainda não se traduziu em números, e em 2011 houveram apenas 300.000 visitantes a maioria apenas entre dezembro e fevereiro, sendo que Angkor Wat, no Camboja, que tem recebido na casa dos 2 milhões.

Antes de ser fadada às ruínas e ao esquecimento, Bagan na verdade chamava-se Pagan e era a capital do Império Pagan. Entre os séculos 9 e 13 mais de 10.000 estruturas religiosas foram erguidas numa pequena área de 104 km². Hoje, após guerras, terremotos, etc., restaram em torno de 2.200 estruturas em pé ou mais de 4.000 se consideradas as ruínas.

O governo de Myanmar vem tentando estabelecer a região como um destino turístico internacional. Isso também tem levado a algumas extravagâncias, entre elas construir palácios totalmente descaracterizados no meio do parque arqueológico, conduzir restaurações sem a utilização de materiais apropriados, etc. Isso é parte da explicação do porquê Bagan não é listada como patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.

Arranjos

Logo descemos do avião tivemos que pagar uma taxa de US$ 10 pelo ingresso na região de Bagan. Há três cidades que você pode ficar: Nyang U (para mochileiros e duros, nós), Old Bagan (para famílias e interessados em resorts, caro) e New Bagan (pra quem quer ficar longe dos templos).

Pegamos um táxi por K 5.000 (preço tabelado) até a 'guesthouse' Golden Myanmar em Nyang U. Negociamos por um quarto duplo c/ ventilador, A/C, café-da-manhã e banheiro privativo por US$ 16/noite. Não demorou nada e logo apareceu o que seria nosso guia e 'motorista' e negociamos para os próximos 2 dias uma carruagem (jeito tradicional de visitar Bagan) incluindo o nascer-do-sol por K 33.000, o que talvez tenha sido caro, não sei dizer.

Tour no 1o dia

Deixamos as coisas no quarto e às 8h da manhã já estávamos saindo em direção aos templos. Não demorou 1/2 hora pra descobrirmos que termos decidido pela carruagem no lugar de bicicletas tinha sido algo absolutamente essencial. O clima nessa época do ano nessa região é extremamente seco e quente e a temperatura variou entre 40-43 oC. Logo fomos vendo a paisagem extremamente árida, com cactos e espinhos, e também os gringos roxos derretendo debaixo do sol tentando fazer o passeio de bicicleta.

Mapa de Bagan
Fonte: AstronomicalTours

Quando você começa a entrar no meio dos templos logo bate a idéia de querer ir parando em todos, afinal é algo diferente e que você nunca viu. Acho que entramos em uns 3 ou 4 antes de cair a ficha de que 'você está num lugar onde tem mais de 2.000, não dá pra ver todos'. E a partir daí deixamos o nosso 'motorista' nos guiar.


O povo mianmarense desenvolveu uma técnica cosmética para se proteger do sol. Há um tradicional cosmético natural chamado Thanaka que é extraído da árvore de sândalo por um técnica bem simples - fricção numa pedra com um pouco de água. As pessoas então - principalmente mulheres e crianças - passam no rosto às vezes fazendo desenhos. Esse protetor é realmente muito bom, uma vendedora fez questão de passar em mim e no Bart e daí embora tivéssemos ficado o dia inteiro no sol, não ficamos nem vermelhos. 

Mulher c/ Thanaka no rosto
Quando a gente começou o passeio tínhamos um mapa com o nome de todos os principais templos e a localização. Infelizmente esse mapa só serviu até chegar em Bagan, depois ele foi esquecido e sumiu. Embora o nosso 'motorista' falasse o nome dos templos, nem eu nem o Bart conseguimos lembrar depois e tentei nomear alguns - sob risco de estar errado.


De repente o cenário que tinha um templo aqui e outro ali virou um sem fim de templos e construções misturados na vegetação. Aliás, se posso fazer uma recomendação do que procurar ou ir em Bagan eu diria que procurar subir nos templos - a maioria não é possível - para apreciar as vistas é talvez a parte mais legal. Os templos por dentro são em si não são tão impressionantes mas a vista é de tirar o fôlego.


Num dos grandes que fomos havia um enorme terraço e daí pudemos tirar algumas fotos panorâmicas. A maioria dos lugares requer que você ande apenas descalço portanto uma grande dica: vá de chinelos e não de tênis, e, após entrar carregue eles com você porque caso haja um terraço você vai ter que por os chinelos de qualquer jeito do contrário vai ter uma queimadura séria no pé.



Já devia ser quase 11h da manhã e estávamos, literalmente, cozinhando e não tínhamos levado água pra tomar no caminho. Então nosso 'motorista' muito gentilmente 'escolheu' uma vila pra nos levar em que fosse possível comprar água, pegar uma sombra, etc.

Chegamos na tal vila e logo devoramos umas 2 latas de refrigerante cada um por K 1.000/lata. Até aí não sabíamos que 1 L de água gelada custava apenas K 400 e os refrigerantes genéricos locais (porque tudo da Coca-Cola vem importado da Tailândia), os famosos Star Cola, Quénch e Lemon Sparkling custavam também apenas K 400.

"Concidentemente" atrás da lojinha de bebidas havia uma vila que produzia cigarros e tecidos. As casas eram realmente arrumadas, mais do que a média, e havia prontamente uma demonstração de onde cortava comida pro gado, onde fazia isso, aquilo, etc. Tudo bem posicionado. Ninguém trabalhando nos 'postos' em plena 2a feira. E essa senhora fumando esse charuto gigante sem parar. Eles nos deram 2 charutos, e um rolinho de fio de seda como 'presentes', 'souvenir'. No final a moça que estava apresentando o lugar ficou pedindo dinheiro 'de presente' e quando demos uma gorjeta só faltou ela jogar no chão.


Esse templo Dhammayangyi acho que é um dos mais icônicos de Bagan. Quase de qualquer lugar você consegue ver essa forma quase piramidal - até do avião. E acho também é um dos maiores templos de toda Bagan



Olha, confesso que chegou uma hora que era um sobe e desce da carruagem e um entra e sai de templos que a gente acabou ficando totalmente desligado do que era o quê e onde a gente tava. Há alguns templos brancos no meio de Bagan, não na sua melhor forma porque a pintura não está boa mas fazem um contraste legal com o típico vermelho/alaranjado.


Mingalazedi ao fundo
Budas

Dentro dos templos geralmente há grandes espaços vazios, mas muito refrescantes, em que muitas pessoas dormem durante a tarde, ou vendem coisas, ou vão até lá para rezar. As paredes muitas vezes têm pinturas ou esculturas. De qualquer forma o elemento que mais chama a atenção são os enormes Budas, de várias cores mas em geral seguindo o padrão das duas fotos abaixo.

Uma diferença interessante entre o Buda de Myanmar e um do Camboja ou Tailândia são as expressões faciais. Em Myanmar o Buda tem olhos coloridos e puxados, uma sobrancelha bem marcada e lábios pintados de vermelho. Outra possibilidade é o Buda dourado e alto com diferentes posições das mãos.



Pôr-do-Sol

Já mais pro final do dia e quando a temperatura começou a voltar pra patamares suportáveis fomos procurar um lugar pra ver o pôr-do-sol. E não bastasse o dia inteiro sem uma nuvem no céu, torrando, quando chegou perto das 17h surgiram muitas nuvens no horizonte e o sol ficou encoberto.



Já que estávamos lá decidimos ficar até escurecer mesmo. Nisso, um vendedor  - eles surgem em todos os lugares imagináveis, são quase como duendes em Bagan - apareceu tentando vender suas telas - há 10000... vendedores oferecendo a mesma coisa em todos os lugares. Nisso eu virei e falei pra ele que ele poderia fazer algum dinheiro se ele mudasse o negócio das telas pra vender bebidas. Aí ele perguntou se nós queríamos e eu disse que sim. Ele ofereceu trazer 2 Mandalay Beer da vila dele por K 2.000/garrafa, o mesmo preço na cidade. Negócio feito.


Quando a nossa cerveja já tinha chegado apareceram mais dois turistas - um americano e um italiano. Como estávamos apenas em 4 ali vendo um pôr-do-sol que não iria acontecer começamos a conversar. O americano então perguntou de onde éramos e o Bart respondeu Holanda e Brasil. Aí ele virou pra mim e começou a falar em português - com um sotaque forte mas ainda muito bom.

O americano tinha morado 3 anos no Brasil, em Mundo Novo no sertão da Bahia na década de 70. Ele viajou o nosso país inteiro - incluindo Amazônia - de avião e ônibus. Esse sim era um cara aventureiro. Imagine atravessar um país grande como Brasil que não fala nada de inglês há 40 anos atrás? Pois é, eu avisei que em Myanmar encontramos pessoas diferentes da média.

Terminado ali voltamos pro hotel e fomos jantar num restaurante muito bom - e muito barato - e perto da nossa 'guesthouse', Fuji Restaurant. O tradicional fried noodles/fried rice fica entre K 1.500-2.000.

Noite infernal

A primeira noite em Bagan foi complicada. Não havíamos descoberto como fazer funcionar o A/C e a temperatura dentro do quarto a noite deve ter ficado em torno de 30oC. Ou seja, ficamos sem dormir e também não conseguíamos comprar água a noite porque às 22h todo mundo já estava dormindo e o hotel estava fechado. Acabei descobrindo um galão de água na recepção e foi isso que salvou. Ou seja, garanta que o seu quarto vai ter A/C funcionando perfeitamente. Além disso, houve algumas paradas de energia (algo bem comum) e daí até o ventilador parou de funcionar.

Tour no 2o dia

O nosso 2o dia começou morrendo por causa da noite sem dormir. Acordamos as 4h da manhã para ir ver o nascer-do-sol. O nosso 'motorista' já estava esperando com o cavalo na frente do hotel e daí carregamos o café-da-manhã pra comer por lá mesmo.

Chegamos até um templo famoso Sulamani, não pela beleza, mas pelas vistas 360o. Lá encontramos mais alguns turistas mas não deve ter passado de uns 10-15. Conforme o céu foi clareando foi possível começar a enxergar a silhueta de alguns templos no horizonte.


A forte neblina fez com que no começo o sol ficasse meio apagado e de repente surgisse como uma bola fosca no horizonte.


Por fim, mais tarde, recuperou o brilho e daí deu um tom alaranjado no céu, contrastando com a silhueta das construções.


Eu também acho que tão bonito quanto olhar contra o sol e ver as silhuetas é bonito também aproveitar as Golden Hours (manhã e entardecer) em que os raios de sol atingem a fachada das construções diretamente criando cores muito vivas que contrastam com o verde da vegetação.




Nesse dia estávamos realmente muito cansados por causa da noite mal dormida e daí tivemos que voltar pro hotel e dormir um pedaço da tarde (o mais quente) pra depois voltarmos a tempo de ver a Shwezigon Pagoda e o pôr-do-sol.

A Shwezigon Pagoda é um dos templos mas importantes de Bagan por ter uma estrutura imponente dourada e parcialmente feita de ouro mesmo. É uma espécie de Shwedagon de Bagan e também fica iluminada a noite - mas não consegui tirar foto, preciso comprar um tripé pra fotos noturnas :S

Shwezigon
Sunset 2

Em seguida tivemos nosso último pôr-do-sol em Bagan, que não teve sol também porque até formou um tempo de chuva mas no final pudemos ver o céu colorido antes de irmos embora. Como sempre, uma cervejinha pra terminar o dia com o mesmo vendedor do dia anterior.



Gawdawpalin

Espero que tenha sido interessante ler até aqui e no próximo e último post sobre Myanmar irei falar sobre Inle Lake, num cenário completamente diferente de Bagan, com muita água, plantações, temperaturas suportáveis e uma enorme comunidade que vive e depende desse lago como fonte de alimentação, via de transporte, e turismo. Aguardem! ;]

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3 comentários:

  1. Oi amigo,estou planejando ir a yangon em novembro,tenho duvidas quanto ao dinheiro,se eu levar dolares,eu posso comprar e pagar tudo em dolares,ou tenho que fazer o cambio,se tiver que trocar,onde posso trocar?no aeroporto tem casa de cambio?obrigado(so_fotos@hotmail.com)

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  2. ah,mais uma coisa,é facil conseguir um taxi do shwedagon pagoda para o aeroporto?tem algum restaurante bom pra almoçar perto dele?é que vou de manhã e retorno a noite vindo de bangkok.

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  3. Olá!

    Minha visita em Myanmar ocorreu em maio'12. Imagino que as coisas não tenham mudado tanto desde então. Por isso diria que:

    1. Leve apenas dólares em notas limpas, sem amassos, mutilações, etc. As notas devem estar perfeitas do contrário é possível que rejeitem-nas. Algumas coisas como hospedagem e passeios você provavelmente pagará em dólares, outras como alimentação, táxi, etc., você fará os pagamentos em kyat, que é a moeda local. Em geral o melhor local para fazer um câmbio confiável é o seu hotel por isso é interessante arranjar um pick-up service pra quando você chegar. Em Yangon, fiquei neste hotel Motherland Inn

    2. Conseguir um táxi provavelmente é algo fácil e deverá custar até US$7 entre o centro de Yangon até o aeroporto. O Scott's Market, se você gosta de experimentar comidas diferentes, é uma boa opção para buscar uma refeição. Fica no centro de Yangon também. Não me lembro de ter ido a nenhum restaurante na própria Shwedagon Pagoda ou próximo dela mas talvez se você sair e procurar na rua vai achar.

    3. Como você perguntou sobre Shwedagon Pagoda, que fica em Yangon, no post sobre Bagan, vale ressaltar que essas são localidades muito distintas. A ida para Bagan pode ser feita por ônibus, trem ou avião dependendo da sua disponibilidade de dinheiro e/ou tempo. De avião leva cerca de 40 min e de trem/ônibus até 18h.

    Abraços e uma ótima viagem!

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