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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Suzhou e seus jardins



Intro


Por mais que as fotos desse post venham a tentar mostrar o contrário, Suzhou é uma cidade grande e imponente às margens do rio Yang-Tsé a caminho de Shanghai. Mais de 4 milhões de pessoas em sua área urbana e mais de 10 milhões na região metropolitana, é uma cidade que, à moda chinesa, mistura modernidade, desenvolvimento e gigantismo com mais de 2.500 anos de história. É freqüentemente chamada também como Veneza Chinesa e desde 1997 seus famosos jardins foram listados como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Mapa de Suzhou
Chegada em Suzhou

O trajeto entre Nanjing e Suzhou foi a primeira vez na minha vida que estive dentro de um trem bala. Enquanto esperava na moderníssima estação (ou aeroporto?) em Nanjing fiquei ansioso sobre como seria essa experiência. Cerca de 15 min antes do horário marcado no bilhete, o trem chegou na estação. A partir daí as catracas específicas para a plataforma desse trem começaram a piscar indicando que podíamos seguir em frente. Os trens, brancos e enormes e com um nariz gigante na frente, eram extremamente limpos e modernos - uma experiência um tanto diferente dos trens que havia pegado até então. Isso porém não impediu o paradoxo chinês. Ao mesmo tempo que a tecnologia proporcionada era moderna e que sim, boa parte dos passageiros estava vestindo roupas formais e se apresentavam como pessoas da metrópole, um contingente enorme de chineses e suas famílias carregando malas fora de medidas, comida, pacotes, etc., se espremeu até se acomodar no trem. Ali mesmo havia o choque entre a China urbana, moderna, midiática e aquela que ainda é rural e corre atrás para se adaptar a tantas mudanças.

100 km/h, 150 km/h, 200 km/h, 240 km/h e daí o trem se estabilizou nessa velocidade. A cada 15-20 minutos chegávamos a uma estação diferente e o processo de (des)aceleração se repetia. Anúncios, mensagens e a própria velocidade eram disponibilizados em chinês e inglês. A 240 km/h, que ainda não é a velocidade máxima de um trem bala na China, o cenário passa realmente rápido. As curvas são freqüentemente sentidas com solavancos e há uma certa sensação de se estar dentro de um avião já que poltronas, "aeromoças", são de alguma forma parecidos. Não muito tempo depois cheguei em Suzhou.

Já era noite e minha primeira tarefa era chegar até o hostel, por sinal, um da rede Mingtown, que normalmente oferece serviços básicos - em outras palavras, cama. Encontrei o ônibus que me levaria até as imediações do hostel - área turística de Suzhou - e antes que houvesse espaço pra me perder achei melhor checar com um jovem chinês que estava dentro do ônibus qual deveria ser a minha parada. Hipótese correta, ele provavelmente era um universitário e falava inglês. Descendo, percorri alguns caminhos bem escuros e antes que me perdesse de novo resolvi consultar duas senhoras que obviamente não falavam inglês. A saída foi mostrar a tela do iPad em que constava o nome, em chinês, do hostel. Alguns sinais, resmungos e deu a entender que era apenas seguir em frente. Finalmente, achei o hostel.

Fiz check-in, paguei, deixei minhas coisas no armário e saí para procurar comida. Às 22h, a rua do meu hostel estava começando a ficar deserta e restaurantes estavam fechando. Havia uma abundância de cafés - caros - e que muitas vezes não tinham qualquer opção de refeição. Andei por meia hora e acabei desistindo. Entrei no café vizinho ao meu hostel, repleto de jovens chineses "moderninhos", e "jantei" um frappuccino por 35 RMB.

Explorando Suzhou

Eu tinha apenas 2 noites e 1 dia em Suzhou, portanto, tudo que eu quisesse ver na cidade tinha que ser feito nesse único dia. Com isso em mente, diferente dos meus colegas de dormitório, acordei bem cedo, às 6h, e dei início ao passeio.

Comecei com a tentativa de comprar meu café da manhã. Um pouco difícil, porque turistas geralmente não acordam nessa hora e daí boa parte da área turística imediatamente próxima ao meu hostel estava fechada. Porém, como é comum em toda a China achei alguma coisa que lembra um dumpling e comprei cerca de 8 por 10 RMB. Fui comendo ao longo do caminho. Minha idéia era fazer uma visita às "torres gêmeos", duas Pagodas uma ao lado da outra, mas quando cheguei próximo a elas descobri que estavam fechadas para reforma, uma pena.

A Arte dos Jardins Chineses

Os jardins chineses procuram recriar em miniatura paisagens naturais. Essa arte evoluiu durante mais de 3.000 anos e era comum que imperadores construíssem jardins enormes e suntuosos enquanto que pequenos jardins eram recriados por nobres, professores, artistas, etc. A composição clássica de um jardim chinês é feita através de muros, um ou mais lagos, pedras, flores e árvores, e uma combinação de halls, pavilhões e caminhos em zig-zag, de forma a apresentar ao visitante cenas cuidadosamente planejadas.

The Garden of the Master of the Nets

O primeiro jardim que consegui entrar foi esse e a entrada custou cerca de 30 RMB. Foi originalmente criado em 1140 e recriado em 1770 pelo burocrata Song Zongyuan.


Vista interna do jardim
O contexto dos jardins clássicos é mais ou menos o mesmo. Um burocrata/comerciante/etc bem sucedido, resolve transformar sua própria residência em uma obra de arte paisagística, acrescentando lagos, plantas, pedras, ambientes visando representar idéias de paz, harmonia, etc., elementos comuns na cultura chinesa.

Detalhe em janelas e vidros
 Panmen Gate

Esse lugar tem esse nome devido a um portão construído a milhares de anos atrás que servia como porta de entrada para Suzhou. No entanto, eu diria que o maior atrativo nesse caso não é esse portão mas sim os jardins, lagos e construções em volta. Na minha opinião esse seria o jardim mais bonito de Suzhou.

Foto dos jardins em Panmen
Uma visita ao local custa cerca de 40 RMB e tomará pelo menos 1 hora de passeio pelos jardins, muros, estruturas, etc. Eu aconselharia chegar cedo pra poder melhor aproveitar o local e evitar o tumulto causado pelos grandes grupos de turistas ao longo do dia.

Cachoeiras e vegetação nos jardins
Auspicious Light
 Pagoda

Eu diria que definitivamente um dos pontos altos é a imponência da Auspicious Light Pagoda com 53 m, tendo sido construída no ano de 1004 AC.  Por 6 RMB extras é possível subir as escadas até o último andar - vale a pena! - e ter uma vista impressionante de Suzhou a partir das alturas.


Aqui fiz também minha primeira parada pra descansar já que o ritmo do passeio estava bem acelerado e totalmente a pé. Comi mais alguns dumplings aproveitando a vista do alto da Pagoda.



Suzhou: grande e com estilo

Cruzamento em Suzhou
Faixa exclusiva p/ motos
e bicicletas
Andando pela cidade já passava das 10h da manhã e o trânsito de pessoas e coisas estava a pleno vapor. Não sendo diferente de outras cidades chinesas, a cidade era agitada porém sem perder a compostura. Algumas grandes ruas tinham faixas específicas para bicicletas, motos e outros veículos de baixa velocidade.

Faixas centrais para carros, um sistema de metrô e até uma rede de canais com possibilidade de se utilizar barcos. Tudo isso envolto por uma grande quantidade de árvores. Questões como essa me fazem pensar de que após superada sua "revolução industrial", a China terá belíssimas cidades.

The Surging Wave Pavillion

Esse é um dos jardins mais antigos de Suzhou entre os que foram pertencidos por professores renomados da cidade.
Entrada em formato de Lua
Acho que um dos elementos mais intrigantes da arquitetura de jardins chineses são os pórticos em formato de Lua. Cada pequeno detalhe desse estilo de pórtico apresenta um significado espiritual diferente, tendo o telhado logo acima com adornos também específicos. De qualquer forma, um pórtico em lua é um convite para que as pessoas entrem à propriedade, e geralmente eram encontrados apenas nas residências chineses ricos e nobres.

Pingjiang Road


Casas antigas à margem do canal
Não apenas a rua do meu hostel mas também provavelmente um dos canais mais bonitos e aconchegantes da cidade. Um de seus lados possui uma extensa passarela quase que inteiramente em bom estado de conservação e perfeita para um café/almoço, ou simplesmente perambular aproveitando a calmaria do lugar.






Casa antiga à margem do canal
 Ao mesmo tempo em que você passeia por uma das margens, a outra, à beira do canal, apresenta construções muito antigas quase no autêntico preto e branco de Suzhou. Aliás, a arquitetura daqui é muito diferente de lugares como o norte da China por exemplo. Enquanto lá as construções eram carregadas de cores escuras e grandes muros, nesta parte da China as construções parecem mais leves, com maior quantidade de janelas, portas e predomínio da cor branca.



The Humble Administrator's Garden


Foto de ponte sobre o lago
Chegamos então ao último jardim da minha visita. Talvez o mais aclamado de todos - ou é o que a bilheteria deixa transparecer com os 5 A's de classificação turística, nota máxima - esse jardim é considerado o mais fino exemplo de jardinagem do sul da China e se espalha por uma área de mais de 51.000 m².

Foto de pequeno pavilhão
Em 1510, Wang Xiancheng, poeta e enviado imperial perseguido mudou-se para Suzhou e iniciou os trabalhos para transformar o antigo monastério que funcionava no local em seu jardim. Seu desejo era se aposentar da política dedicando-se a uma vida simples.





Foto da vegetação
Levou 16 anos até que o jardim ficasse pronto porém logo mudou de mãos pois Wang teve que vendê-lo para honrar perdas com apostas. Mudanças arquitetônicas e diferentes proprietários se sucederam ao longo dos anos. Em 1997 passou a ser listado como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.




Aqui o passeio por Suzhou chega ao fim, mas, pasmem, tudo isso foi feito até às 14h do dia. Ou seja, era totalmente desnecessário acordar tão cedo e fazer tudo na correria e ao custo de bolhas e algumas queimaduras de sol. A próxima parada vai ser uma verdadeira megalópole, uma cidade alfa e extremamente importante não apenas na China mas no mundo todo. A maior cidade chinesa, com mais de 23 milhões de habitantes, Shanghai!

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