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terça-feira, 22 de maio de 2012

O que você sabe sobre Myanmar? 1a parada: Yangon


Finalmente cheguei à minha última viagem pelo Sudeste Asiático. Dessa vez, eu e o Bart aproveitamos um dos grandes feriados anuais do Camboja e fomos a talvez o país mais remoto, mas ultimamente mais falado da região, Myanmar. Talvez a primeira coisa a se comentar seja um esclarecimento sobre o nome do país: muitas pessoas e países ainda o chamam de Birmânia, ou Burma em inglês, mas desde 1989 o governo alterou seu nome para o atual Myanmar só que essa mudança não foi amplamente reconhecida interna ou internacionalmente por isso confusão com os nomes.

Mapa de Myanmar: Yangon, Bagan
e Inle Lake formam um triângulo
Fonte: Lonely Planet
A história de Myanmar foi conturbada nos últimos 50 anos desde que o país foi invadido pelos japoneses na 2a Guerra Mundial, ficou independente da Inglaterra, passou por um golpe de Estado e foi governado desde então por uma junta militar. Antes um dos países mais ricos do Sudeste Asiático agora está nitidamente dentre os mais pobres. Isso ficou claro quando vimos a infra-estrutura local, a condição das cidades, o estado dos prédios e das moradias.

Muito tem se falado sobre Myanmar na mídia, tanto asiática quanto ocidental, devido às reformas políticas que o atual governo está propondo. Aung San Suu Kyi, nobel da Paz em 1991, tem dominado as manchetes recentemente depois de ter sido libertada em 2010 após 20 anos de prisão domiciliar por protestar contra o regime militar. Também foi eleita agora em 2012 para o parlamento.

Semana passada, sob o pretexto de "premiar" o movimento de redemocratização os EUA suspenderam as barreiras de investimento contra Myanmar. Análises mais amplas porém apontam para um jogo de interesses mais sofisticado: a tentativa dos EUA de barrar o crescimento da influência chinesa sob países do Sudeste Asiático ao mesmo tempo que cria um ambiente de negócios para companhias americanas (notadamente a GE em notícia veiculada no Bangkok Post) e também beneficia o atual governo de Myanmar tornando-o menos propenso à manipulação chinesa.

Toda essa história antes de começar a falar da viagem é pra ilustrar o como foi interessante estarmos vendo com os nosso próprios olhos uma espécie de ex-Coréia do Norte em processo de abertura para o mundo. Ainda é possível viajar pelo país e em alguns lugares ter apenas você de estrangeiro, ou ver pessoas vivendo seu dia-a-dia de uma forma natural e intocada. Obviamente esse contexto atrai viajantes alternativos (éramos um ponto fora da curva) e conhecemos pessoas com histórias bem diferentes da média. Além disso a curiosidade do mundo sem que ainda esteja ocorrendo uma onda de investimentos está inflacionando (e muito!) os preços de tudo na rota turística. Ou seja, Myanmar destoa e não deve ser encarado por viajantes como se fosse apenas mais um elemento a se somar ao trio 'baixo custo' Tailândia, Camboja e Vietnã.

O roteiro

Tínhamos precisamente 6,5 dias pra visitar Myanmar. Isso é muito pouco para um país em que as distâncias entre os principais pontos turísticos é grande e as estradas em geral muito ruins. Pensando nisso elaboramos esse roteiro:

12/05 - Vôo Phnom Penh-Yangon partindo às 18h
13/05 - Vôo doméstico logo cedo partindo para Bagan. Tour em Bagan
14/05 - Tour em Bagan
15/05 - Vôo doméstico logo cedo partindo para Inle Lake. Tour em Inle Lake
16/05 - Tour em Inle Lake
17/05 - Tour em Inle Lake e ônibus para Yangon a tarde
18/05 - Tour em Yangon
19/05 - Tour em Yangon e vôo de volta para Phnom Penh a tarde

Para aqueles que já pesquisaram sobre Myanmar podem notar que está faltando um destino comum, Mandalay. É a 2a maior cidade do país mas consideramos que não era tão relevante para uma estada curta. Fomos confirmar essa opinião depois com pessoas que tinham passado por lá e ficaram muito frustradas com o que (não) viram.

Pra que esse roteiro fosse possível foram essenciais portanto que fizéssemos: um vôo direto entre Phnom Penh e Yangon e vôos domésticos entre algumas localidades. Digo isso porque obviamente seria possível fazer a viagem num orçamento menor via Bangkok ou utilizando ônibus em todos os deslocamentos, mas não nesse tempo.

O vôo ida e volta Phnom Penh-Yangon custou US$ 270/pessoa pela MAI - Myanmar Airways International. O visto pode ser emitido na chegada mas optamos por fazer aqui em Phnom Penh mesmo. Leva 10 dias, custa US$ 30, é necessária uma carta assinada e carimbada pela sua empresa explicando sua função, 2 fotos 3x4 e mais alguns formulários. Os vôos internos foram feitos pela Air Mandalay, muito boa, entre Yangon e Bagan (US$104) e entre Bagan e Inle Lake (US$74).

Não querendo nos gabar mas esse roteiro, pra quem tem uma restrição de tempo, está muito bem desenhado. Em cada lugar tivemos a sensação de que passamos o tempo necessário para cobrir o essencial sem sobrar tempo pra ficar sem ter o que fazer.

Yangon

Primeiras Impressões

Seguindo o raciocínio do nosso roteiro você vai perceber que apenas dormimos em Yangon na chegada e fomos realmente explorar a cidade apenas nos últimos 2 dias. Pra que esse post fique didático eu não vou seguir a ordem do roteiro e vou colocar Yangon primeiro.

Descer do avião em Yangon já é uma experiência porque por 1/2 hora você vai achar que está chegando em Cingapura. O aeroporto vai realmente confundir suas impressões sobre o país. Passado esse pequeno período de 'maravilhamento' até sair do aeroporto a realidade logo te chama.

O 'pick-up' da nossa 'guesthouse' estava nos esperando e logo foi nos levar para o carro dele. Sim, aí soubemos, 'você acabou de chegar em Myanmar'. O estacionamento, de terra, com carros extremamente velhos e caindo aos pedaços. Fomos dentro de uma van com a porta amarrada pra não abrir e janelas que não fechavam.

O caminho do aeroporto até o centro da cidade no entanto revela algumas coisas interessantes. Há muitas grandes avenidas, grandes cruzamentos, e vegetação na cidade. Existem ônibus. Há grandes prédios, embora não muitos, mas mais do que em Phnom Penh por exemplo.

A nossa 'guesthouse' se chamava Myanmar Motherland Inn 2. O quarto duplo mais básico possível (c/ ventilador) e banheiro compartilhado custou US$23/noite - caro pra padrões do Sudeste Asiático. Os funcionários eram extremamente amigáveis, fizeram toda a reserva de vôos para nós, o quarto era bom e limpo, e o café da manhã excelente - aliás, um item que foi sempre mais do que o esperado em todos os lugares que ficamos. Ficamos outra noite lá antes de ir embora.

Quando voltamos a Yangon novamente chegamos às 5h da manhã, mortos. A viagem de ônibus durou 12h e houve várias paradas mas de qualquer forma durou menos do que as 14h esperadas, o ônibus era bom, limpo, e ainda havia travesseiros, garrafas de água, etc. Custou K 18.000/pessoa (1 US$ ~ K 820).

Extremamente importante: os seus dólares devem estar limpos, sem nenhuma marca de dobradura, nenhum arranhão, nada. Devem parecer como novas caso contrário as suas notas serão rejeitadas e isso aconteceu com uma de $100 minha que tinha uma minúscula marca de dobra.

Segundas Impressões

Dentre os elementos que fazem parte do cenário de Yangon estão as calçadas, figura rara nessa parte do mundo e muitas construções em arquitetura inglesa - várias, abandonadas ou em péssimo estado de conservação.


A parte central de Yangon lembra um tabuleiro com longos quarteirões com avenidas de fluxo mais livre e outro lado mais estreito. Esse lado é o que me chamou mais atenção, uma bagunça de carros, pessoas, mercados, letreiros, fios, etc. Tudo.


O transporte público tem uma importância muito maior do que em outras cidades asiáticas. Não há tantas motos nem tantos carros e os ônibus estão sempre muito lotados a maior parte do tempo.

Sule Pagoda

Numa das rotatórias mais importantes de Yangon está localizada Sule Pagoda (US$2/pessoa). Segundo a lenda esse templo foi construído a mais de 2.500 anos, na época de Buda. Para o viajante leigo ao budismo, o templo embora bonito não é tão impressionante. É necessário tirar os sapatos e andar descalço em todo o local. Na entrada irão oferecer a possibilidade de você deixá-los guardados. Não sem interesse, as mulheres que cuidam do lugar serão muito, muito, inconvenientes requisitando uma doação.


Bogyoke Market


Não muito longe da Sule Pagoda está o Bogyoke Market também conhecido por Scott's Market. Se você seguir pela 'avenida' principal vai ser abordado por todos os vendedores possíveis de todas as coisas possíveis. Porém é o jeito pra você não se perder nos labirintos de lojinhas. É possível comprar camisetas, artigos em ouro, prata, jade, rubi e laca.

Em algum lugar - é preciso procurar e não fica em nenhum lugar óbvio - há uma pequena área de alimentação com várias cozinhas familiares. Vale muito a pena experimentar o chicken curry ali - o que mostra a influência indiana na cultura.


Zoo


Fomos parar no zoológico por acidente, estávamos procurando um parque famoso no centro da cidade mas acabamos passando pelo zoológico e resolvemos entrar. Custava apenas K 2.000/pessoa.

Esse seria um daqueles passeios normais se não tivesse uma grande diferença. Esse zoo é o paraíso das crianças e o inferno para os bichos. Macaco indiferente? Elefante com sono? Não ali. Todos os animais queriam interagir e por uma questão básica, era possível comprar e dar comida diretamente a eles. Porém, eu acho que a administração do zoo foi um pouco mais além e decidiu transferir a tarefa de alimentar os bichos para os visitantes. Logo, os animais pareciam desesperados pra conseguir comida com qualquer visitante que eles vissem.



Havia uma disputa entre os elefantes pra ver qual pegava os pedaços de cana-de-açúcar
que podiam ser comprados em uma barraquinha e dados diretamente a eles
Shwedagon Pagoda


Sim, finalmente chegamos até o mítico, central e cinematográfico monumento de Myanmar. A Shwedagon Pagoda é o lugar mais sagrado em todo o país e os mianmarenses devem pelo menos 1 vez na vida visitar esse local. Preza a lenda que foi construída a mais de 2.500 anos também para guardar 8 cabelos do Buda, porém arqueólogos calculam algo entre o 6o e o 10o séculos, o que ainda é bastante impressionante. Custa US$ 5 muito bem pagos para entrar e você deve deixar seus sapatos na entrada ou carregá-los em uma sacola. Entramos pelo portão sul (há outros três - norte, leste e oeste).

Enquanto você sobe a escadaria pra chegar na plataforma não é possível deixar de notar a imponência das estruturas. Uma longa escadaria com muitos pilares e detalhes feitos em madeira.




Logo que você chega à plataforma há uma impressão de ter sido transportado pro passado em que monges e peregrinos passeiam (em sentido horário) ao redor da magnífica Shwedagon Pagoda. Infelizmente eu acho que a foto não capta essa sensação mas realmente deu pra sentir uma atmosfera totalmente diferente.


Esse site oficial contém informações muito boas para entender o design e a estrutura da Shwedagon Pagoda. Há 4 templos cardinais (norte, sul, leste, oeste) e 64 menores fazendo um círculo em volta do templo principal.

Agora, enfim, a estrutura que obviamente não passaria despercebida. Com 99 metros de altura, 21.841 barras de ouro maciço, 5.448 diamantes, 2317 rubis, safiras e outras pedras preciosas, 1.065 sinos de ouro e um diamante de 76-carat no topo.



Tivemos uma experiência muito interessante aqui. Estávamos sentados esperando pelo pôr-do-sol quando um monge chegou perto de nós, perguntou de onde éramos e começou a conversar com a gente. Logo chegou outro monge e depois outros. Seguindo os monges começaram a chegar pessoas (que eram amigos dos monges). Logo estávamos rodeados por uns 10-12 mianmarenses nos perguntando todo tipo de coisa.

Os primeiros monges que vieram falar conosco
Saímos então para caminhar com alguns deles e descobrimos o motivo de tanto auê com a gente. Os professores de inglês recomendam que os alunos vão pelo menos 1 vez por semana em algum ponto turístico de Yangon para encontrar estrangeiros e praticar o inglês. Ficamos próximos de dois deles, recém-formados em engenharia de petróleo e elétrica, que queriam praticar conosco. No final fiquei lendo um livrinho de frases e palavras em inglês e consertando a pronúncia deles.

Teve um aspecto muito interessante. Talvez pelo reflexo de viverem em uma sociedade fechada e não influenciada pelos hábitos consumistas um deles me disse que 'em Myanmar uma pessoa não pode ser julgada pelo que veste ou pelo que tem mas pelo que é'. Isso chamou muito minha atenção e me fez pensar como o país mais 'atrasado' do Sudeste Asiático (ainda) cultiva valores nobres como esse.

Se já era impressionante de dia, a noite a iluminação combinada com o brilho dourado das paredes e o azul escuro do entardecer criam uma atmosfera ainda mais mágica.




Depois desse show de luzes fomos embora em direção ao nosso hotel. Algo impensável em boa parte do mundo andamos uns 6 km a noite com mochilas e minha câmera no pescoço, alguns momentos em ruas extremamente escuras e vazias, até a nossa 'guesthouse'. Eis um outro ponto chamativo de Myanmar: segurança. Não sentimos nenhuma possível ameaça, nem de sermos roubados. É algo diferente. Ainda quando conversávamos com os mianmarenses no templo perguntei a eles sobre se era possível ir a pé até o hotel. Eles estavam sempre muito preocupados com a distância dizendo que era muito longe mas quando perguntei sobre a segurança falaram que não devíamos nos preocupar com nada.

Depois dessa caminhada o jeito foi jantar e tomar uma Dagon Beer, cerveja local com 8% de volume alcoólico. Há outras marcas com teores fortes também, a Mandalay Beer tem 7%.

Kandawgy Lake


Tínhamos ficando devendo uma visita ao Kandawgy Lake localizado no meio de Yangon. No outro dia acordamos cedo, tivemos um ótimo café-da-manhã no hotel, fizemos check-out e fomos a pé pra mais 5-6 km até chegar nesse lago. No caminho uma outra vista da Shwedagon Pagoda.

Vista do lado sul pela Shwedagon Pagoda Road
Custa K 2.000/pessoa para entrar. O parque tem a maior parte dos caminhos para andar como uma plataforma de madeira sobre as águas, uma idéia incomum e muito legal.


Vimos muitos e muitos casais de namorados espalhados pelo parque, praticamente impossível achar um banco vazio pra sentar. Foi engraçado notar que os casais têm mais 'liberdades' em Myanmar do que no Camboja, o que eu esperava que fosse diferente.

Outro atrativo do parque é que ele tem vista para a Shwedagon Pagoda mas nesse dia estava nublado então acho que não criava a melhor oportunidade pra foto. A noite a vista deve ser animal.

lago e Shwedagon Pagoda ao fundo
Outro elemento chamativo é esse restaurante gigantesco feito na forma de um barco tradicional de Myanmar.


Depois buscamos um restaurante na região. Achamos um Food Centre que tinha cardápio inglês mas que ninguém conseguia falar então tudo na base da mímica e apontando as coisas. Tirando o fato que fizeram confusão com o nosso pedido e tentaram cobrar a mais correu tudo bem e a comida era muito boa.

Daqui fomos pegar o táxi pro aeroporto (K 5.000) e finda a nossa aventura por Yangon. Próximo post falarei sobre Bagan, definitivamente um concorrente sério pra Angkor Wat. Mais de 2.000 templos (ou 4.000 se incluídas as ruínas) espalhadas por uma planície árida no coração de Myanmar. Aguardem! :)

Próximo Post: Misteriosa Bagan

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8 comentários:

  1. I don't understand the language, but sounds like you had an amazing week in Cambodia! Where is your next destination?

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    1. Hey, don't worry! English version coming up today! ;]
      Actually it was in Myanmar and my next destination is China but only in July. Cheers! ;]

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  2. jovem! vc é mto aquele cara nerd do Eurotrip! huahuahuahu

    Como sempre, muito legal o texto e as fotos!!

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    1. hahahahaha... eh.. sou meio doente com planejamento de viagem mesmo.. mas o detalhamento é mais pra ajudar quem esteja pensando em ir porque direto vejo o pessoal cometendo alguns erros por falta de informaçao ... :S

      valeu Caê! abraçao! ;]

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  4. Olá estarei em Myanmar em outubro, procuro qual a cidade podemos visualizar familiares saindo ao nascer do Sol em embarcações para levar alimentação para o Monges na pagodá.
    Voce saberia informar?
    Ana

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  5. Como funciona o visto na chegada? Eu já li os sites em inglês e não entendi direito. Melhor perguntar pra um brasileiro que tenha feito!

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  6. muito bom o post!! Parabéns!

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