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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Retrospectiva



Durante todo esse tempo por aqui eu tentei manter a disciplina de escrever no blog e refletir e até escrevi num diário por algum tempo. Meu maior medo sempre foi de que as 'verdades' encontradas se perdessem no futuro.

Vou tentar agora transportar vocês pra uma seqüência mais corrida dos fatos e dos sentimentos que foram nesses 10 meses de Sudeste Asiático. Do momento em que eu pus meus pés aqui, até os últimos dias. - É também uma oportunidade incrível para amigos e parentes desnaturados pegarem o 'resumão' e se interarem das coisas, hahaha.

Cheguei por aqui no dia 1o de setembro de 2011. Em plena estação das monções, pela manhã o dia estava quente, abafado mas com céu aberto. Do alto do avião, o que mais tinha me chamado atenção era o enorme espelho d'água que se formava em cima dos campos de arroz. 

Início

Setembro

Minha primeira impressão de Phnom Penh, foi, na verdade, um choque. Dormi com as impressões de Cingapura e Kuala Lumpur e acordei várias décadas atrás. Cheguei no meu quarto e a primeira coisa que pensei foi no cheiro de mofo que tomava conta dele. Mal sabia eu que eu tinha pisado ali, no maior quarto, e sob as melhores condições que eu vi durante todo o período em que morei por aqui.

Ainda que encontrei e fiz alguns amigos, não demorou talvez 1 semana pra me sentir muito sozinho. As pessoas falavam palavras que eu não entendia. Nos almoços ou nas reuniões da empresa raramente o inglês era falado e quando era muitas vezes num sotaque quase impossível de se entender. Pra piorar essa primeira imagem, eu presenciei um roubo na minha frente e isso me mergulhou numa paranóia sobre segurança que só veio a ser desfeito há alguns meses atrás.

Ainda assim nessa época estávamos com o nosso primeiro projeto. A reavaliação de uma empresa estatal que cuidava do abastecimento de água de Phnom Penh conhecida como PPWSA. Tivemos um momento interessante nessa época pois seria o primeiro relatório que nunca foi feito antes, as primeiras planilhas que nunca foram montadas antes e enfim.. tudo do zero. Um dos dias que eu me lembro claramente foi quando apresentei as "mágicas" do Excel como tabelas dinâmicas, fórmulas lógicas, etc. Comecei aqui também minha batalha clamando por eficiência, constantemente desafiada pelos terceirizados e uma rede de inércia sob a tomada de decisão que não convém discutir as causas aqui. Paralelamente comecei a tocar alguns projetos alternativos para a empresa. Mapeamento de alguns de nossos processos, tentativa de estabelecer um modelo de competências, o desenho de um treinamento em inglês, etc.

Ainda no mesmo mês que eu cheguei fiz minha primeira viagem. Na companhia de Patro (mexicano) e Mariana (brasileira) fomos pra Angkor Wat. Desafiamos uma das piores enchentes em anos, literalmente atravessando o "mar" do interior do Camboja com parte da estrada sendo a única coisa que não estava alagada. Foi também uma das aventuras mais cansativas que eu tive, com 52 km rodados em bicicletas sem marcha! :P

De volta à rotina, meu dia-a-dia era extremamente básico. US$ 1 pelo café-da-manhã, US$ 1 pelo almoço e US$ 1 pela janta. Total por mês igual US$ 90. E esse perfil foi assim até eu ter aumento de salário em janeiro de 2012. Ou seja, o resultado foi que eu perdi em torno de 8 kg rapidamente e sem perceber fui ficando vulnerável e com baixa resistência - mesmo tomando suplementos de vitaminas todos os dias.

Outubro

Meus primeiros meses aqui foram marcados por uma reflexão constante sobre o genocídio, o histórico trágico do país e como as coisas aconteceram e onde elas vieram parar. O nome desse blog 'Holiday in Cambodia' é inspirado nessa temática. Nessa época comecei a ler o livro 'First They Killed My Father', e simplesmente não conseguia parar. Pude quase enxergar na minha mente o que aconteceu e chorei que nem criança com as cenas de horror e sofrimento. Me senti culpado, mimado, ingrato pela vida que eu tinha.

Sem perceber, eu comecei a me limitar, evita sair, evita me entreter, e me fechei. É difícil acreditar como as pessoas sorriem tanto na rua, vão pro trabalho, estudam, casam, etc., tendo passado por essa história. Mas no final eu entendi que, por tudo o que eles passaram, viver do passado ou da pena é o que ele menos precisam. Esquecer o sofrimento e criar mecanismos que evitem que dias terríveis como esses voltem é a solução. A melhor contribuição que eu posso dar é ajudar nessa transição pro mundo das coisas e dos sentimentos contemporâneos dos quais eles ficaram de fora por 30-40 anos e agora precisam aprender a lidar. Tenho certeza que me tornei uma pessoa mais feliz a partir daqui.

Tive a oportunidade de ir num casamento Khmer, bem tradicional, e me integrar mais à cultural local. Fui ficando acostumado a nós, ocidentais, sermos vistos como animais exóticos por onde nós passamos e por algum tempo eu acho que virei a atração principal no lugar dos noivos. Como diria Zhengyu, ainda que eu não concorde inteiramente, "in Rome do like the Romans do", o que nessa situação inclui dançar com eles e beber cerveja com gelo.




Novembro

Em novembro surgiu outro feriado grande por aqui e resolvi embarcar na minha primeira viagem internacional desde que tinha chegado. Haviam se passado apenas 2 meses e meio desde que eu cheguei. Porém, pisar no aeroporto foi uma sensação de voltar à "civilização". Meu destino foi o norte do Vietnã. Quando pus os pés em Hanoi imediatamente me encantei com a cidade. Pessoas andando no parque às 22h da noite? Isso era novidade. Árvores por todos os lados e temperaturas entre 18-25oC. Eu me convenci de que moraria facilmente por lá.

A minha experiência de Vietnã foi ainda mais impactante por ter conhecido o Hau, que na minha e dele inocência, nos tornamos grandes amigos e isso fez com que os meus dias por lá fossem muito especiais. Vi as paisagens absolutamente incríveis de Halong Bay e Tam Coc que só aumentaram minha admiração por esse país. Nos olhos, na fala, e na história do Vietnã você vê a força de um povo guerreiro que sobreviveu à ambição da China e à influência dos EUA. Ainda ouviremos muito sobre esse lugar.

Dezembro

Finalmente em dezembro, pude combinar feriados e férias novamente e reencontrei minha família e namorada. É difícil descrever como tempo é uma coisa relativa, não fazia 3 meses que eu havia me despedido de todos em São Paulo e eu sentia que estava distante há anos. Poder rever as pessoas que você ama numa cultura calorosa como a nossa é uma felicidade sem tamanho. Revisitamos Cingapura, que agora tive tempo de conhecer de fato, e deixamos nosso queixos no chão com tamanha modernidade, eficiência, beleza urbanística e um sistema de regras draconiano. É incrível como um vôo de nem 2 horas pode decolar e pousar em tamanho contraste.

Seguindo o nosso cruzeiro, fomos também para Bangkok, onde a emergência de modernidade propiciada pela globalização se funde com uma cultura liberal, porém convivendo lado a lado com a história e a cultura tailandesa tradicional. A Tailândia é hoje uma potência regional, tanto a nível de negócios como de tecnologia, educação, cuidados médicos, turismo e aviação. Bangkok é o exemplo disso. Arranhas-céus de instituições financeiras disputam lugar com casas, casas sob palafitas à beira do rio, e templos suntuosos.  Em termos demográficos e territoriais, uma posição muito mais favorável do que a de Cingapura, restrita à uma ilha e uma população pequena.

Ainda dentro da Tailândia descobrimos porque tantas pessoas vêm de tão longe pra lá. Além das riquezas culturais de Bangkok, outras maravilhas naturais existem mais ao sul do país, tanto do lado leste quando oeste. Mais precisamente Ko Samui e Phuket reservam uma experiência belíssima em termos de praias e mar. 


Finalmente fizemos nosso caminho pela Malásia, um país que me chamou a atenção particularmente pela população muito heterogênea. Pessoas de origem local (muçulmanos), convivem outros de origem chinesa (budistas) e indiana (hindus) em relativa tranqüilidade. No entanto, é cada vez mais tensa em relação entre os muçulmanos e os demais grupos que se sentem pouco representados politicamente.  Kuala Lumpur é o reflexo disso sendo a maior cidade malaia, ao mesmo tempo em que é possível encontrar de tudo um pouco, vê-se pouca miscigenação na população.


Langkawi tem o apelo mais natural, e não é pra menos, tivemos uma tarde sensacional viajando de barco entre os manguezais e vendo as águias se alimentando. Ainda que eu tivesse quase sonhado em subir no teleférico, quando chegamos lá estava fechado devido aos ventos e com filas enormes e não era o passeio mais apropriado pra quem tinha apenas um dia por ali.

Em seguida seguimos por Penang e Melaka que congregam talvez o ápice de turismo cultural na Malásia. Penang é muito interessante pelos templos budistas familiares que apresentam quase uma arquitetura 'barroca-asiática' com muitos detalhes, adornos, enfeites, etc. Também ficou claro o poder da cultura chinesa/budista/confucionista nesses lugares. O culto ao conhecimento e à superação e aprimoramento. Nesses templos era comum ver o nome de cada membro da família, o seu curso de graduação, e o nome da universidade. Melaka segue mais ou menos na mesma linha mas com um apelo mais colonial devido à presença holandesa alguns séculos atrás.

Finalizada a nossa viagem primeiro tive que falar tchau pra Cá, o que já foi muito difícil. E, segundo, uma semana depois, me despedir da minha família aqui no Camboja. Esses dois 'eventos' me deixaram acabado na semana seguinte. Falar tchau depois que você já está no exterior é muito mais difícil. É o tipo de coisa que te faz querer ir embora, deixar os planos pra trás, e voltar. Nessa época mudamos de escritório, de empresa e de chefe com algumas implicações que eu só conseguiria entender direito lá na frente.

Nossa empresa fretou um ônibus, carregou de comida e bebida e nos deu dois dias de comemoração no final do ano pra fazer o 'countdown' na cidade de Sihanoukville. Enquanto a festa foi muito boa e todos se divertiram o dia todo, o 'countdown' em si foi frustrante e até um pouco triste. Ao invés dos abraços e das mensagens de ano novo, saúde e etc., nada, alguns brindes e fomos embora dormir. Mas no outro dia estava tudo bem de novo, não se preocupem! :)

Meio

Janeiro

Depois da virada do ano, nessa mesma cidade eu fui representar a nossa empresa diante de um novo projeto que estava nascendo. A reavaliação do Porto de Sihanoukville, cujo IPO deve ocorrer muito em breve. Eles fizeram uma apresentação bem interessante sobre custos de frete de acordo com os portos disponíveis na região, os futuros projetos a serem desenvolvidos com o dinheiro do IPO, etc. 

O começo de 2012 foi a fase mais estressante do meu trabalho aqui no Camboja, mas não só daqui, foi profissionalmente o período mais estressante da minha vida. 

Pegamos alguns projetos de reavaliação de indústrias têxteis que estão querendo fazer IPO das suas fábricas daqui. O primeiro choque foi entrar em uma indústria têxtil da Ásia, cujas condições de trabalho são bem discutíveis. Um batalhão de mulheres, mais de 3.000, costurando, passando, pregando, etc., peças de roupa de marcas bem famosas, entre elas Adidas. Eu vi pessoas sendo carregadas depois de desmaiarem devido ao calor e o cheiro de produtos químicos, chineses gritando com os funcionários, banheiros em condições imundas, etc. Em uma fábrica, que não fornecia pra Adidas, eu acho que talvez tenha visto trabalho infantil, o que tem margem de erro porque as pessoas são muito pequenas em geral.

Impressões à parte, coordenei a nossa equipe de inspeção várias vezes quando visitando a fábrica. Porém, um erro crasso na hora de dimensionamento do projeto fez com que a expectativa de prazo do cliente fosse totalmente incompatível com o nível de complexidade que encontramos no local. Havia mais de 6.000 equipamentos, boa parte em uso, que mudavam de localização de um dia pro outro. Meu chefe havia negociado 2 dias para finalizar essa inspeção. O tempo final de conclusão foi 3 meses. Ao mesmo tempo me doía o coração às vezes ter que forçar nossos funcionários matarem aulas da faculdade pra que conseguíssemos ficar mais tempo na fábrica.

Nessa época eu cheguei no escritório quase todos os dias às 7h  da manhã e várias vezes voltei pra casa às 22h. O volume de informação que tinha que ser processado de um dia pro outro e consolidado era enorme e não tínhamos processo estabelecido pra isso. Aos poucos o nosso cliente começou a ser extremamente rude com os nosso funcionários - por vezes negando-lhes almoço e água -, depois começou a ser rude comigo e finalmente começou a gritar no telefone com o meu chefe.

Num dos dias que estava visitando a fábrica comecei a ter as dores nas costas, que depois começaram a descer pra barriga e pra virilha. Chegou uma hora que ficou impossível, e a única coisa que eu conseguia fazer era gemer e suar frio. Fui então apresentado à minha primeira crise de pedras no rim e a felicidade de ter contratado um bom seguro saúde.

Antes de terminar o mês tive que fazer uma segunda visita ao hospital por ter sintomas de malária - febre alta, dores fortes no corpo, etc. Graças a Deus não era malária nem dengue, apenas uma infecção bacteriana mas rendeu uma noite de hospital de novo.

Fevereiro

Mal tinha me recuperado e saído do hospital devendo a continuidade do projeto anterior, nossa empresa pegou outro de outra fábrica têxtil mas dessa vez com 8.000 itens espalhados em 3 plantas diferentes. E mais uma vez os prazos fantasiosos rodaram na mesa de negociação. Só a parte de inspeção levou em torno de 3 meses também sendo que o tempo negociado inicialmente era de 2 semanas.

Gerenciar uma equipe Khmer também não foi fácil. As nossas diferenças culturais são enormes e isso se traduz na forma de lidar com trabalho, tarefas, prazos, etc. Quando um prazo é dado no meu entender, é pra ser cumprido, no entender local é apenas uma tentativa. Tentei implementar uma forma de competição entre os nossos funcionários em que o número de equipamentos inspecionados por dia era colocado num gráfico e um ranking que eram atualizados diariamente. O resultado foi interessante e realmente puxou a eficiência das inspeções pra um patamar mais alto. De prêmio um deles levou uma ida ao bar de graça. Nesse período também escrevi vários procedimentos e processos de forma a tornar as coisas padronizadas e mais fáceis de serem administradas baseadas no sufoco que estávamos tendo naquele momento.

Em fevereiro fizemos uma viagem de um único dia pra Mekong Island próximo a Phnom Penh onde pudemos relembrar um pouco a vida simples do interior do Camboja - já fazia um tempo que eu não passeava pelo interior. Pudemos ver a produção artesanal de seda e também uma pequena praia de areia no meio do rio. Uma realidade completamente diferente da cidade que estava a apenas 30 minutos dali. 

Eventualmente na minha cabeça se sucediam mini-crises sobre as condições do Camboja. Por várias vezes me revoltei contra a corrupção escancarada, a falta de aderência às regras, a ingerência pública (e privada), etc. A sensação de que tudo estava errado era muito grande e realmente sufocava. Eu ainda tenho com freqüência um pré-julgamento de todas as pessoas que têm carros grandes como se todos fossem corruptos e sangue-sugas. Nem precisa me dizer que está errado pensar assim.

Nesse mês também fiquei doente de novo, com dores de estômago muito fortes e diarréia. Dessa vez me neguei a ir ao hospital - é muito deprimente ficar indo no hospital sozinho toda hora. Fiquei o final-de-semana em casa bebendo muita água e comendo coisa leve. No domingo não tinha mais nada, devia ter sido alguma comida estragada.

Também chegou um novo amigo, Sahej, da Índia que trouxe muitas conversas interessantes, experiências gastronômicas - comida indiana é o máximo! -, paixão por fotografia e planos de viagens.

Março

Até abril os nossos dois projetos estavam em aberto e oscilando entre pressa e passo de tartaruga de acordo com o humor dos nosso clientes em cooperarem com a localização dos equipamentos que ainda não puderam ser achados. Paralelamente a isso estávamos conduzindo as pesquisas de preço de mercado para cada categoria de equipamento.

No meio de março um grande amigo nosso foi embora, Eric, da China. E logo chegou o novo intercambista de outra empresa do mesmo grupo que a minha, o Bart, da Holanda. Daqui pra frente posso dizer algumas coisas: fiquei muito menos sozinho, sempre saímos, encontramos amigos, decobrimos restaurantes, passei a comer muito melhor então engordei e as doenças diminuíram e gastei muito mais dinheiro, haha. Nessa mesma época também conheci o Zhengyu, também da China, que trouxe uma amizade com muitas reflexões profundas sobre cultura e história e as diferenças entre a China e a Ásia do resto mundo.

Fim

Abril

Em meados de abril tive outro grande feriado por aqui. Combinei com as últimas férias a que tinha direito e eu e a Cá planejamos uma viagem pra Indonésia. Antes porém ela ficou 1 semana aqui no Camboja e pôde conhecer um pedacinho da minha vida por aqui.

Começamos a nossa viagem com um vôo entre Phnom Penh e Kuala Lumpur, uma dormida mortal no chão do aeroporto de lá e depois um vôo pra Yogyakarta em Java, na Indonésia. Os monumentos de Borobudur e Prambanan representam a influência budista e hindu na história do pais. Hoje no entanto a maioria é muçulmana. 

Pegamos nosso caminho de doze horas por estradas insanas em Java até chegarmos à região de Mt Bromo. A incrível paisagem de um vulcão em que pudemos ver primeiro o sol nascer de forma magnífica e depois chegar até a beirada da cratera à cavalo. Aqui foi onde peguei as temperaturas mais baixas em quase 1 ano, cerca de 4oC no amanhecer. Totalmente inesperado num lugar que está muito próximo da linha do Equador.

Em nossa próxima parada seguimos para um lugar mais misterioso, Kawah Ijen, já bem a leste da ilha de Java. O parque na região parecia estar fechado e até abandonado. Não vimos ninguém por horas e o caminho era íngreme e estava frio. De longe o cheio de enxofre e fumaça branca no céu anunciava que já estávamos chegando perto.

Entre Java e Bali tivemos que passa por Bayuwangi onde pegamos a balsa. E depois de 4h de ônibus dentro de Bali - que se mostrou surpreendentemente grande - conseguimos chegar em Kuta. Alugamos um carro e iniciamos nossas altas emoções até o nosso primeiro passeio em Tanah Lot e Ubud. Enquanto o primeiro lugar é à beira do mar, o segundo fica nas montanhas no meio da floresta e é quase um retiro espiritual de tão tranquilo.

A região montanhosa de Bali oferece inúmeros passeios, uns bem interessantes incluem Goa Gajah e Tegalalang. Goa Gajah contém uma caverna muito misteriosa também chamada de Elephant Temple e ainda um antigo local de banho agora cheio de peixes. Em Tegalalang encontramos umas das vistas mais impressionantes de toda a viagem, os terraços de arroz, retrato da engenhosidade dos balineses em contornar os limites impostas pelo relevo.

Nossa última parada em Bali foi nas localidades de Bedugul e Bukit Peninsula que embora estejam descritas no mesmo post são totalmente opostas e diferentes. Bedugul fica nas partes mais montanhosas da ilha, quase sempre sob chuva e nuvens e de acesso um pouco mais complicado. A Bukit Peninsula fica no extremo sul e apresenta clima bem seco e praias de paredões.

Finalmente, a nossa última experiência na Indonésia foi visitando as Gilli Islands, um conjunto de pequenas ilhas redondas próximas umas às outras entre Bali e Lombok. Um ótimo lugar pra aproveitar o mundo sem carros e motos, perambular pelas ilhas e fazer snorkelling e mergulho. Impressionou também o preço não tão caro das coisas pela qualidade e localização.

A Indonésia nos impressionou e muito, acho que foi muito além da expectativa. Encontramos pessoas muito amigáveis e solícitas e um repertório turístico inesgotável. Montanha, praia, vulcão, floresta, tudo, lá tem. Me despedir da Cá pela segunda vez foi terrível, parece que saiu um pedaço de mim aquele dia e ainda fiquei esperando meu vôo no aeroporto por mais de 15h. :(

Voltando pro Camboja fiquei meio mal por alguns dias mas depois voltei ao normal e continuei em frente. Logo que eu voltei a inspeção com os nossos clientes tinha caminhado e foi concluída. Como já tínhamos terminado a pesquisa de preços, consolidei tudo e programei os cálculos na planilha. Enfim a parte de equipamentos estava finalizada! :)

Enxergamos uma janela de feriados em Maio e daí combinamos com nossos chefes, eu e o Bart, em pegar o feriado grande e somar dias extras se compensássemos esses dias trabalhando em outros feriados pequenos. E foi isso que fizemos e viabilizou nossa inesperada viagem pra Myanmar.

Maio


Esse mês foi bem tranquilo, tanto no trabalho quanto fora dele. Eu, Bart, Sahej e Zhengyu, saímos juntos várias vezes. Tivemos tremendas experiências culinárias com comida indiana e fizemos algumas viagens, uma pequena e perto e outra grande e longe.

Nossa viagem pequena foi um meio final-de-semana na terra natal do Phearum, um dos membros da minha equipe, uma experiência muito forte e interessante. Pudemos ver bem de perto como vivem os cambojanos fora da cidade. Fomos tão bem tratados e servidos que temos uma enorme dívida com a família dele. Fizeram nossos pratos favoritos e em nenhum momento faltou comida ou cerveja.

E a pergunta fica de como pesoas tão simples, vivendo em situações tão básicas, conseguem sorrir tanto e ainda tratar tão bem seus convidados. Essa é a magia do povo Khmer, algo que eu não vi em nenhum outro lugar. Acho que a convivência com a fome, com a perda e o sofrimento trazem uma nova perspectiva às pessoas. Tudo é menor e menos importante se você pode comer, estar perto de quem você ama e não ter medo de ser morto a qualquer momento. Onde e porque nós nos tornamos pessoas tão voláteis no Ocidente? Sempre há facilidade pra justificar os problemas e os incômodos mas é muito difícil justificar por que ser feliz. Será que tá certo? Enfim, o fato é que já tinha ouvido isso antes mas é a mais pura verdade. Se tem algo que é exclusivo do Camboja e que sejam pobres, que sejam ignorantes, que sejam etc. mas eles são sim, mais felizes. É estranho...

Nossa segunda viagem, foi explorar um lugar ainda muito pouco conhecido do Sudeste Asiático exceto pelo seu processo de reabertura política recente, Myanmar. Na ex-capital Yangon nos impressionamos pelo monumento mais importante de todo o país, a Shwedagon Pagoda. Além é claro de pessoas solícitas, amigáveis e extremamente curiosas que encontrarmos por lá. É fato que Yangon tem um ar decadente pelos vários anos de falta de investimentos e fechamento com o mundo exterior. Porém a cidade parece ser muito movimentada com as ruas lotadas de pessoas até às 21h. Além disso, nenhuma preocupação com segurança, roubos ou assaltos.

Nossa segunda parada foi o ponto turístico mais forte de Myanmar, o patrimônio arqueológico de Bagan, no centro do país. Não estamos falando de alguns templos budistas mas de mais de 2.000 estruturas religiosas espalhadas em um pequeno espaço. Isso cria uma impressão cinematográfica de que você está em algum tempo da Antiguidade. De fato a parte mais empolgante do passeio eram as vistas da região de cima dos templos grandes.

Por último, antes de retornarmos ao Camboja, fomos à região de Inle Lake, na parte nordeste de Myanmar. Mais uma vez ficamos impressionados pelas formas interessantes que a vida assume de acordo com as circunstâncias. O povo que vive nesse lago aprendeu a remar com as pernas para poder deixar os braços livres enquanto pescavam. Para que tivessem onde morar desenvolveram a construção de casas sobre a água. E pra que pudessem produzir nas áreas encharcadas introduziram o cultivo extensivo do tomate.

Myanmar foi uma experiência fora do comum e ainda mais especial pelo fato de estarmos lá bem na hora em que o país está começando se liberalizar. Provavelmente vimos um retrato que vai estar muito diferente em 10-15 anos.

Junho


E tudo isso me leva a junho. O país exótico em que andar na rua dava medo? Não conheço mais. O desconhecimento de pessoas e de lugares em Phnom Penh e a sensaçao de ser 'de fora'? Não tenho também. Morar no exterior é algo meio assim: você entra na montanha-russa, sobe, desce, esfria, esquenta, e em algum momento em que você nem percebe, você se acostuma com o vai e vem. O lugar vira o seu lar e ao invés de ser agressivo fica confortável. Phnom Penh é defintivamente uma cidade ótima pra se aposentar ou viver com um salário relativamente baixo para padrões ocidentais.

Junho entrou com clima de despedida, e assim está sendo. Primeiro, no começo do mês nos despedimos do Sahej, nosso amigo da Índia, parceiro de várias idas e vindas. E logo mais eu estou indo. Já quis que o relógio andasse mais rápido durante todo esse tempo mas hoje acho que ele poderia ir um pouco mais devagar. É a vida, ao mesmo tempo que a ansiedade me puxa pra frente pra visitar a China e reencontrar o Brasil, há a ansiedade que segura, que não quer abrir mão dos amigos, e da vida simples que eu encontrei por aqui.

Por termos finalmente finalizado o trabalho com as indústrias têxteis - entregado o relatório final e o dinheiro trocado de mãos - os donos da empresa resolveram nos dar um final-de-semana pago em Sihanoukville durante o último feriado. Fomos e voltamos apertados mas foi uma experiência muito divertida e o nosso último momento oficial todos juntos comemorando. Fizemos até um passeio pra Bokkor Mountain, que surpreendeu pela ótima condição das estradas e pelo frio e vento na parte de cima. Os cambojanos ficaram super entusiasmados com a neblina e com o frio - fantástico segundo eles.

No último sábado tive minha festa de farewell, e pra minha alegria quase todos os nossos funcionários puderam ir e mais alguns grandes amigos que eu conheci no Camboja. Pra poder resumir todo esse tempo de aventura, sobe e desce, descobertas e também homenagear as pessoas que contribuíram pra isso, fiz esse vídeo abaixo que foi exibido na festa.


Dia 29/06 pego o avião, dessa vez, pela última vez em algum tempo, saindo de Phnom Penh. Cada dia isso se torna algo mais relevante na minha cabeça e me faz pensar ainda mais sobre a minha experiência por aqui, os aprendizados, os erros, os acertos, etc.

4 comentários:

  1. sério, não tem como não falar outra coisa a não ser: DO CARALH*! hahahahah
    JP, acho que a maioria dos intercambistas, onde quer que tenham ido, se identificam com muitas coisas do seu último post. Tantos sentimentos em comum, tantas mudanças durante um curto espaço de tempo e a certeza de que a pessoa que chegou não é a mesma que vai embora!

    JP, boa sorte nesse finalzíssimo, força para continuar e vem com tudo! Brasilzão te espera!
    boa viagem e bjos!

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    1. Valeu Jodite! ;]
      Sem dúvida.. intensidade a 1.000.. haha
      to indo logo logo!!
      bjao!! ;]

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  2. João:
    Como um de seus amigos desnaturados, agradeço o "resumão"!
    Admiro sua coragem de largar tanta coisa aqui no Brasil e passar esse tempo de sua vida em um local tão "desconhecido" por nós.
    Parabéns pela experiência e pelo blog!
    Abraço
    Gustavo Baungartner

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    Respostas
    1. haha, valeu Gu!
      Espero que tenha sido um leitura interessante e tenha revelado um pouco esse outro pedaço do mundo! :)
      Abraçao!! ;]

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